Um áudio apresentado por pelo policial militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominghetti Pereira, que se apresenta como um vendedor de vacinas autônomo da empresa Davati Medical Supply, provocou confusão, nesta quinta (1º/7), na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19. A mensagem de áudio implicaria o deputado Luis Miranda (DEM-DF), que, com o irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, denunciou um esquema de compra superfaturada da vacina indiana Covaxin pelo governo federal.
Senadores desconfiaram da mensagem, que, explicitamente, não diz nada comprometedor nem tem a palavra “vacina” em seu conteúdo, embora não possa ser de pronto descartada. O vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), pediu a apreensão do celular do depoente para que seja periciado.
Para parlamentares da comissão, Dominghetti pode ser um depoente falso, que teria surgido para atrapalhar as investigações. Nas palavras do senador Fabiano Contarato (Rede-ES), ele seria uma “testemunha plantada”. Ainda não existem provas disso. O vendedor de vacinas disse que recebeu a mensagem que mostrou aos parlamentares do representante da empresa Davati Medical Supply no Brasil, Cristiano Alberto Carvalho, após o depoimento bombástico de Luis Miranda, na última sexta (25/6).
Cristiano afirmou ao jornal O Globo, contudo, que o áudio nada tem a ver com negociação de vacina. “Vou falar direto com o cara, o cara vai pedir toda a documentação do comprador. Meu comprador já está de saco cheio disso. Vai pedir a prova de vida antes, e a gente não vai fazer negócio”, afirma o deputado Miranda no arquivo.
“Então, a gente nem perde tempo. Você sabe que eu tenho um comprador com potencial de pagamento instantâneo. Para que ele compre o tempo todo lá, em quantidades menores, obviamente. Se o seu produto estiver no chão, o cara fizer um vídeo, o nome, Luis Miranda, tenho aqui o produto, o meu comprador entende que é fato, ok? E encaminha toda a doc necessária. Amarra, faz as travas, contratos todos, e bola para frente. Não vou perder mais tempo com esse comprador, que desgastou muito, meu irmão, nos últimos 70 dias. Tem muita conversa fiada no mercado”, disse o deputado, que voltará a depor na próxima terça (6/7).
Logo em seguida, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), demonstrou irritação. “Na nossa região, chapéu de otário é marreta. E jabuti não sobe em árvore. O senhor está sob juramento. Não venha achar que todo mundo aqui é otário. Veja bem qual o seu papel aqui”, criticou. “Do nada surge um áudio do deputado Luis Miranda. Chapéu de otário é marreta, irmão”, voltou a disparar contra Dominghetti. Os governistas não conseguiram esconder o interesse na prova, e o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente da República, questionou se Aziz estaria defendendo Luis Miranda. O presidente da CPI negou.
“Não estou defendendo o deputado Luis Miranda, sugeri que convocasse para ele voltar. Porque ele fala uma coisa aqui, outra ali, fala um vídeo e desdiz. Ele está convocado para estar terça-feira aqui. Isso é problema dele. Não é meu. Não tem que proteger ninguém. Terça-feira da semana que vem, o deputado Luis Miranda volta aqui”, afirmou.
Senadores pediram a presença de Cristiano Alberto Carvalho, mas a convocação dele também já foi aprovada. O relator, Renan Calheiros (MDB-AL), destacou que há movimentos suspeitos por parte do governo, para atrapalhar os trabalhos da CPI.
“Na semana passada, esse proprietário (o empresário bolsonarista Francisco Maximiniano) da Precisa entrou com o pedido de habeas corpus para o gabinete de um ministro, tentando burlar o STF ao despachar sem submeter ao sorteio eletrônico. O senhor Maximiniano teve investigação aberta pela PF”, disse. Com a investigação, o Supremo liberou o empresário suspeito de integrar as negociações superfaturadas da Covaxin de falar no colegiado. Os senadores também pediram quebra de sigilo telefônico, telemático e fiscal do bolsonarista.
“Surpreendentemente, recebemos um depoente com um áudio contando algumas mazelas que porventura poderiam envolver o deputado Luis Miranda, que esteve aqui na passada. Em nome de quê? Em nome da investigação da Polícia Federal de ontem? Em nome do mesmo propósito que o proprietário da Precisa tentou burlar o sistema do STF? Em nome de quê? Estamos aqui para investigar. Esses genocidas que causaram tanta dor ao país vão ser punidos”, afirmou Calheiros, muito irritado sob protestos de governistas.
Celular apreendido
Dominghetti revelou ao jornal Folha de S.Paulo um suposto esquema de propina na compra de doses da vacina AstraZeneca feito pelo ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias. O depoente também disse que Miranda teria tentado intermediar a compra de vacinas. Após a confissão, Luis Miranda foi até a CPI nesta quinta-feira e Aziz se reuniu rapidamente com ele. Após Randolfe Rodrigues pedir a apreensão do celular do depoente Dominghetti, governistas pediram que apreendessem também o do deputado, que, porém, já havia deixado o local.
Miranda afirmou a Aziz que o áudio é uma mensagem de 2020 e nada tem a ver com as vacinas. “O que ele diz é que esse áudio é de 2020, que é uma negociação nos Estados Unidos, não tem nada a ver com o Brasil, é um áudio em que nem se falava em vacinas ainda, e que está editado aqui para prejudicá-lo. Ele foi agora à polícia levar o áudio completo, fazer uma denúncia crime e irá dispor para a gente a edição do áudio. Está certo? Que ele, a testemunha aqui neste momento, fala até no irmão. Ele é que fala no irmão. Quer dizer, vossa excelência foi induzido a falar até no irmão do deputado”, afirmou o presidente da comissão.
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