CPI DA COVID

Omar Aziz: CPI vai focar em suspeitas de corrupção na aquisição de vacinas

"O que parece é que existia uma ordem direta para o segundo escalão. O que está parecendo é isso", afirmou ao Correio o presidente da comissão. Denúncia divulgada pela Folha de S.Paulo reforça nova frente de investigação, ao mostrar suspeita de propina de US$ 1 por vacina

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 agora foca nas suspeitas de corrupção envolvendo aquisição de vacinas contra o novo coronavírus, afirmou o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), nesta quarta-feira (30/6). Questionado pelo Correio se ainda pretendia ouvir o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que teve nova convocação aprovada pela CPI, Aziz afirmou: “Vamos tentar ouvi-lo, mas vamos primeiro tentar fechar umas coisas. O que parece é que existia uma ordem direta para o segundo escalão. O que está parecendo é isso”, disse.

Denúncia divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo na última terça-feira (29) mostrou relato do empresário Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que se apresenta como representante da empresa Davati Medical Supply, no qual ele disse ter recebido pedido de propina de US$ 1 por dose de vacina quando a empresa ofereceu 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca.

De acordo com ele, o pedido de propina partiu do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias, no dia 25 de fevereiro — mesma data em que a pasta assinou contrato com a Precisa Medicamentos, representante do laboratório indiano Bharat Biotech, para aquisição de 20 milhões de doses de vacina a R$ 1,6 bilhão, contrato este também alvo de suspeita da CPI. Dias foi exonerado ainda na terça-feira, com publicação no Diário Oficial da União (DOU).

Aziz afirmou que o que espanta “é a velocidade em que alguns setores do governo têm quando há intermediário na compra” de vacinas. A negociação do governo para aquisição da Covaxin já era alvo de suspeita dos senadores justamente por ter tido mais rapidez do que outras vacinas, como Pfizer. Na última semana, novos elementos foram acrescentados com depoimentos do servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, que relatou “pressões anormais” por seus superiores para agilizar a importação da vacina, e do seu irmão, deputado federal Luis Claudio Miranda (DEM-DF), que disse ter informado o presidente sobre as suspeitas.

Aziz afirmou que o movimento era diferente, com mais dificuldades, quando a negociação era direta com os laboratórios, como foi o caso da CoronaVac. De acordo com ele, o governo boicotou muito a aquisição. “Parece que era uma coisa orquestrada para que a gente não tivesse acesso à Pfizer, à CoronaVac, e demorou muito, muitas vidas poderiam ter sido salvas se o governo tivesse tido a oportunidade de comprar as vacinas com a agilidade que era necessário, e é necessário ainda”, disse.

Para o presidente, está claro que “o comportamento do governo em relação à compra de vacinas por meio de intermediários era muito mais ágil do que por meio de laboratórios”. Aziz ainda afirmou que o presidente sempre fala por si, nunca teve porta-voz. E esta é a primeira vez que está aparecendo porta-voz do governo, como o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra, que leu um comunicado na sessão da última terça-feira defendendo o presidente em relação às suspeitas da Covaxin.

“O presidente sempre fez questão de ser o porta-voz do governo, ele sempre se posicionou. Todas as vezes em que ele foi desagradado em relação a uma posição ou acusação, ele saia com 10 pedras na mão. Dessa vez, o comportamento foi diferente”, afirmou.

Em seu comunicado, Bezerra afirmou que Bolsonaro, ao ouvir a denúncia no dia 20 de março sobre a Covaxin, informou o ex-ministro Pazuello no dia 22, um dia antes de o general ter sido exonerado. Pazuello teria, segundo o senador, informado o ex-secretário-executivo da pasta Elcio Franco, que saiu do ministério no dia 26. “É impossível eles terem investigado alguma coisa”, disse.

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