PGR quer frear notícia-crime

Vice-procurador-geral pede ao Supremo Tribunal Federal que aguarde o fim dos trabalhos na comissão de inquérito do Senado para abrir uma investigação contra o presidente Jair Bolsonaro. Parlamentares denunciam crime de prevaricação na compra da vacina Covaxin

A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF), ontem, que segure o andamento da notícia-crime que pede a investigação do presidente Jair Bolsonaro por possível crime de prevaricação nas negociações para compra da vacina indiana Covaxin. Em manifestação enviada ao gabinete da ministra Rosa Weber, relatora do caso, o vice-procurador-geral da República Humberto Jacques de Medeiros defendeu que o Ministério Público Federal aguarde o fim da CPI da Covid antes de pensar em abrir uma investigação concorrente.


“Em respeito ao sistema de independência e harmonia dos Poderes constituídos, e consciente da impossibilidade do salto direto da notícia-crime para a ação penal, com supressão da fase apuratória, o Ministério Público Federal requer que não se dê trânsito à petição precoce, sem prejuízo de o Ministério Público Federal praticar os atos de sua atribuição após o encaminhamento do relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito”, diz um trecho do documento.


O pedido para denunciar Bolsonaro partiu dos senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Fabiano Contarato (Rede-ES) e Jorge Kajuru (Podemos-GO). Os parlamentares levaram o caso ao STF depois que o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e o irmão do parlamentar, Luis Ricardo Miranda, que é chefe de importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, disseram, em depoimento à CPI da Covid, que o presidente ignorou alertas a respeito de suspeitas de irregularidades para aquisição do imunizante. Pressionado, Bolsonaro disse que desconhecia os detalhes sobre o contrato de compra da Covaxin e negou irregularidades no negócio.

CPI foi “furada”

O vice-procurador considerou que os senadores “furaram” a CPI ao acionarem o STF antes da conclusão da investigação parlamentar. Na avaliação de Jacques de Medeiros, a análise do caso deve aguardar o relatório final da comissão.


“Se o Poder Legislativo está a investigar com excelência comportamentos aparentemente ilícitos com todas as competências necessárias, qual seria o motivo para que no Supremo Tribunal Federal se abra uma investigação concorrente, tomada por freios e contrapesos institucionais e sem igual agilidade? Indo mais longe, qual o ganho para a engrenagem interinstitucional se ao final das investigações paralelas, chegar-se à divergência entre as conclusões da polícia judiciária e a Comissão Parlamentar de Inquérito?”, questionou na manifestação enviada ao STF.


A PGR já analisa a notícia-crime, que está com o vice-procurador-geral e decidirá se pede a abertura de investigação. Há a expectativa de uma resposta rápida, antes do recesso do Supremo — que começa amanhã. Se ele optar por tocar a apuração adiante, é necessário que Rosa Weber dê sinal verde.


Medeiros observou, ainda, na solicitação que fez ao STF, que seria “por demais extraordinário se o Ministério Público saltasse de uma notícia-crime para uma ação penal, como pleiteiam os senadores, sem a necessária realização de uma investigação”. E pede que a ministra, caso tenha entendimento diferente, reabra a possibilidade de que “a Procuradoria-Geral da República se pronuncie sobre a conveniência, a oportunidade e as diligências iniciais necessárias em um inquérito sob a jurisdição do STF, sobre a fração das apurações da Comissão Parlamentar de Inquérito trazida ao conhecimento da Corte constitucional”.

As outras batalhas da CPI

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), alfinetou o trabalho dos senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 ao afirmar que o trabalho no Senado está mais lento por conta do esforço do colegiado. Lira teceu comentários sobre a prorrogação da comissão até novembro próximo na tarde desta terça-feira (29/6). Os trabalhos têm duração de 90 dias, podendo, se necessário, se prolongar por mais 90 dias.
“A decisão de adiar ou não é dos senadores. O que (a CPI) tem demonstrado até agora é que o Senado está tendo uma produção menor”, disse o deputado. Em seguida, Lira amenizou. “Mas é normal. É do processo democrático. A Câmara continuará trabalhando normalmente”, afirmou o parlamentar.


Sobre a acusação de prevaricação contra Jair Bolsonaro, que soube da denúncia em março, mas não agiu para deter a compra dos imunizantes a preços além do praticado, Lira disse que somente a Procuradoria-Geral da República poderá se manifestar. “Se a CPI decidiu judicializar a denúncia contra o presidente, ela sai da esfera política e vai para as (esferas) técnica e judicial. É esperar agora as informações que vão para a PGR; e esperar o posicionamento do procurador e acatar o que o ele decidir”, disse.

Prorrogação

No Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) decidiu conter a pressão pela prorrogação, por mais três meses, da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid. O presidente da Casa avalia consultar os líderes de partidos para decidir sobre o adiamento do fim da CPI. “Essa análise (sobre o pedido de prorrogação) deve ser feita ao final do prazo de 90 dias da Comissão Parlamentar de Inquérito. E, por certo, será feita nessa ocasião", disse Pacheco, durante a sessão plenária. Até ontem, o pedido tinha 34 das 27 assinaturas necessárias pela prorrogação”.


Senadores que defendem a continuidade da comissão não descartam um novo apelo para que o Supremo Tribunal Federal (STF) obrigue o Senado a prorrogar a CPI, caso Pacheco cause dificuldades. Na segunda-feira, o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), apresentou um requerimento solicitando que os trabalhos da CPI continuem por três meses. Se não houver recesso, cenário mais provável, a comissão acaba em 26 de julho.


Os senadores votam hoje uma lista de requerimentos com foco em avançar nas investigações de supostos esquemas de corrupção envolvendo compra de vacinas. Na mira está o deputado federal e líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP/PR).