O deputado federal Luis Miranda chegou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 usando um colete a prova de balas para prestar depoimento em relação ao contrato do governo federal para aquisição de 20 milhões de doses da vacina contra covid-19 Covaxin a R$1,6 bilhão, do laboratório indiano Bharat Biotech. O contrato foi assinado pela Precisa Medicamentos, que atua como representante do laboratório no Brasil desde o ano passado.
O deputado chegou sem o irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, que disse ao Ministério Público Federal (MPF) que sofreu “pressões anormais” de integrantes da alta cúpula da pasta para agilizar a importação do imunizante indiano. Na entrada da sessão, afirmou que o irmão foi abandonado pela pasta e que, por isso, teria vindo em avião comercial para prestar o depoimento.
"Infelizmente ele não teve segurança, não teve nada. Ele está sendo atacado por ter falado a verdade. Essa verdade que ele tem a falar deve ser muito séria, para ter tanta represália assim", afirmou. Miranda chegou pela entrada da frente da sala da comissão, onde ficam os jornalistas. Mas ele poderia ter chegado pela parte de trás da estrutura do Senado, sem passar pelos jornalistas. Além de colete à prova de balas, ele tinha uma Bíblia em mãos.
No trajeto até a sala, o deputado afirmou que também foi alvo de ataques e que houve ameaça "pela insanidade do Onyx em colocar a população contra mim por denunciar irregularidades". Completou, ainda, que, pelas redes sociais, houve "vários parlamentares dizendo que o que eu mereço é escuridão eterna".
A sessão foi suspensa pelo presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), alegando ser necessário esperar o servidor chegar, já que o interesse dos senadores consiste em ouvir os relatos do irmão do deputado. Miranda pediu uma conversa reservada com o senador enquanto o irmão não chegava, o que foi aceito por Aziz na condição de levar algum parlamentar da base. Aziz pediu que o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), o acompanhasse.
"Queria que alguém, principalmente o líder do governo (Fernando Bezerra), me acompanhasse para conversar com o depoente, para que não haja dúvidas sobre qualquer tipo de comportamento da minha parte. (...) Estou convidando o Bezerra ou qualquer outro de apoio ao governo para me acompanhar. Porque se ele tem alguma coisa para me falar, não é segredo”, disse.
Nesta semana, foi publicizado um depoimento do irmão do deputado à procuradora da República do Distrito Federal Luciana Loureiro Oliveira, que ouviu o servidor do ministério Luis Miranda, pedindo abertura de investigação específica sobre as negociações com a Precisa.
No documento, a procuradora pontuou: “A omissão de atitudes corretiva da execução do contrato, somada ao histórico de irregularidades que pesa sobre os sócios da empresa Precisa e ao preço elevado pago pelas doses contratadas, em comparação com as demais, torna a situação carecedora de apuração aprofundada, sob duplo aspecto cível e criminal, uma vez que, a princípio, não se justifica a temeridade do risco assumido pelo Ministério da Saúde com essa contratação, a não ser para atender a interesses divorciados do interesse público”.