A provável ida do presidente Jair Bolsonaro para o Patriota enfrenta mais um capítulo. Durante convenção realizada nesta quinta-feira (24/06), a maioria dos membros decidiu afastar por 90 dias o presidente nacional da sigla, Adilson Barroso. Parte da legenda alega que Barroso tem feito negociações individuais com Jair Bolsonaro, sem consultar os demais.
Nem Adilson Barroso nem o filho “01” do mandatário, o senador Flávio Bolsonaro, filiado recentemente, participaram da reunião. Quem assume o comando do partido é o vice-presidente do Patriota, Ovasco Resende. Para ter validade, a decisão da convenção partidária precisa ser registrada em cartório, e Barroso terá amplo direito à defesa. O caso também deverá ser encaminhado ao conselho de ética da sigla para análise. O julgamento final ficará a cargo da executiva nacional.
A convenção de hoje foi convocada por Ovasco. Adilson chegou a publicar uma anulação e convocou outra reunião para o dia 22, que não obteve quórum suficiente. Desde o início do imbróglio envolvendo a ida de Bolsonaro ao Patriota, houve quatro convenções.
Ao Correio, Jorcelino Braga, secretário-geral do Patriota, ressaltou que o afastamento de Adilson Barroso foi deliberado por quórum qualificado. “Entendemos que cumprimos tudo que a legislação exige. Já foi dado entrada no documento, agora é com o cartório. Desde o primeiro momento, nossa posição é que era preciso ter uma conversa da família Bolsonaro com todos os membros do conselho político, o que nunca aconteceu. As conversas e as condições tratadas ficaram restritas ao Adilson”, relatou.
Entre as acusações contra o presidente afastado, ele relata irregularidades que teriam sido cometidas por Adilson Barroso. Ele cita mudança de senha no Sistema de Gerenciamento de Informações Partidárias (SGIP) do Patriota no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). E a destituição e nomeação de delegados de forma irregular.
Ato de desespero
Adilson Barroso, por sua vez, relatou à reportagem ainda não ter recebido comunicado de afastamento e que não existem acusações válidas contra ele. “Não recebi nada para direito de defesa, não fui comunicado de nada. É como se meia dúzia de pessoas de qualquer parte do Brasil fizesse uma reunião e falasse: ‘Olha aqui, eu vou tirar o prefeito daquela cidade e vou ser prefeito no lugar dele'. Não tem jeito. Não tem nenhuma acusação válida contra mim. Onde já se viu tirar alguém constituído pela maioria com direitos todos reservados?”, questionou.
“É só um ato de desespero para assustar o presidente e algumas pessoas que querem vir para o partido. Mas tenho certeza que o PR está bem garantido pelos seus advogados e está por dentro que não tem meio nenhum de me afastarem ou a qualquer outra pessoa do partido”, acrescentou.
“Isso que eles fizeram não tem nenhuma autorização estatutária. Não acharam nada contra minha pessoa; minha acusação é querer filiar o presidente Bolsonaro. Eles não têm autoridade para fazer convenção.
Publicaram aviso de convocação sem consonância estatutária. Não tenho nem que me defender. Não tem fundamento. Não é válido. Não tem nada que me impede de ser, não é dor de barriga de meia dúzia de filiados que pode me afastar sem acusação”, rebateu.
Adilson Barroso comentou que o impasse deve adiar a filiação de Bolsonaro. “O presidente está ocupado, e eu estou ocupado também para poder vencer essas regras estatutárias. Mais uns 10 dias, máximo duas semanas, põe tudo no lugar e coloca cada rebelde no seu lugar", emendou o dirigente partidário.
Adilson marcou uma nova convenção para o próximo sábado (26). “Vamos fazer convenção até fazer quorum e persuadi-los não no grito, mas no voto. Convenção até dar acordo o mais rápido possível dentro da convenção estatutária”, concluiu.
Em nota, Flávio Bolsonaro afirmou que o Patriota ainda não entendeu a magnitude de Bolsonaro e que vai 'arrumar a casa'. "Infelizmente, uma ala minoritária do Patriota não entendeu a magnitude da chegada de um Presidente da República ao partido. Convenção ilegal convocada por eles, sem previsão no estatuto e que é um verdadeiro tiro na cabeça deles mesmos. Fui para o Patriota antes de todo mundo para arrumar a casa e é o que vamos fazer".
Adesão de peselistas
No último dia 17, Bolsonaro voltou a dizer que a ida para o Patriota está “quase certa”. O mandatário relatou a apoiadores na saída do Palácio da Alvorada que as negociações estão avançadas, mas comparou as conversas a um “casamento”. “Tá bastante avançado, tá quase certo aí. Mas é igual a um casamento, tem que planejar bem para não dar problema”.
Um dia antes, Bolsonaro se reuniu com deputados da base aliada do PSL com a intenção de convencê-los de embarcar com ele na legenda proposta. No entanto, nem todos os apoiadores se dispõem a acompanhá-lo. Alguns parlamentares reclamaram sobre a diminuição do fundo partidário por conta do Patriota ter menor expressividade política ou ainda avaliam que a melhor estratégia é ocupar várias legendas e não concentrar em apenas uma. Com isso, o presidente decidiu não bater o martelo ainda, mas já afirmou que ao menos 30 deputados peselistas devem segui-lo.
Uma das alas do Patriota recorreu à Justiça contra Adilson Barroso, acusando-o de irregularidades na organização da convenção nacional em que foi anunciada a entrada do filho do presidente, Flávio Bolsonaro. Os dissidentes afirmaram, ainda, que não houve quorum suficiente para a tomada de decisões.
Além disso, o Cartório do Primeiro Ofício de Notas do Distrito Federal, do Núcleo Bandeirante, emitiu uma nota devolutiva exigindo que Adilson preste maiores esclarecimentos sobre o quórum qualificado da convenção ocorrida em 31 de maio para que possa registrar o resultado da convenção do partido, a qual aprovou a entrada de Flávio.
Em vista das eleições de 2022, o presidente Jair Bolsonaro tem pressa em escolher a nova sigla para sua filiação. O mandatário está desde o final de 2019 sem um partido, quando deixou o PSL e anunciou a criação do Aliança pelo Brasil. Como a legenda fracassou em reunir a tempo assinaturas suficientes para se registrar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro manteve conversas com outras siglas, como o PL, Republicanos, PTB, PRTB, PP e o próprio PSL, mas encontra dificuldades nas negociações para que aceitem seu controle.