O deputado Osmar Terra (MDB-RS) negou, em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, nesta terça-feira (22/6), a existência de um gabinete paralelo. Ele é apontado por membros do colegiado como um dos mentores desse grupo, que chega a ser mencionado como shadow cabinet (gabinete das sombras, em tradução livre) por um dos integrantes da tal equipe, em uma reunião gravada com o próprio presidente da República. O grupo funcionaria como um segundo Ministério da Saúde, para alimentar Jair Bolsonaro com estratégias negacionistas no combate ao coronavírus.
Osmar Terra respondia ao relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL), e ao presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-BA), sobre as defesas do ex-ministro da Cidadania de Bolsonaro a respeito da imunidade de rebanho e da influência dele sobre o gabinete e sobre o mandatário. “O presidente fala o que ele quer falar, ele fala do jeito que ele entende. Eu não tenho poder sobre o presidente de ‘o senhor vai falar isso, vai falar aquilo’. Isso não existe. Se eu tivesse esse poder, eu era o presidente, e ele era deputado”, argumentou.
“Não tem cabimento uma coisa dessas, querer imputar um poder sobrenatural para as pessoas... Ele ouve todo mundo, como todo mundo... O senhor não é da área da saúde, presidente Aziz, nem o senador Renan, mas o senhor ouve alguém, o senhor vai perguntar, pergunta para um, pergunta para outro para formar um juízo. O presidente da República não pode fazer isso? Ele pode, claro! Isso não significa que tem gabinete paralelo, que tem estruturas paralelas. Isso é uma falácia! Não tem…”, disse.
Posteriormente, ele voltou a negar a existência do gabinete, ainda respondendo Calheiros. Mais uma vez, o relator afirmou que Osmar Terra, o presidente da República e o gabinete paralelo defenderam a imunidade de rebanho em detrimento das medidas sanitárias e da vacinação. “Não tem gabinete paralelo, senador”, repetiu o depoente. Depois, o deputado falou da reunião onde há a citação do termo “gabinete das sombras”, em que ele fez parte e foi chamado de assessor do presidente da República.
“Esse vídeo aí, editado pelo Metrópoles, é um vídeo que mostra uma reunião pública. Isso foi transmitido pela internet, tinha mais de 20 mil pessoas assistindo. Isso foi vazado como informações sigilosas, que tinha uma reunião do gabinete paralelo... Aquilo ali foi um grupo de médicos que, através da rede, se manifestou querendo conversar com o presidente. Conversou com o ministro da Saúde no mesmo dia, conversou com o presidente, e me convidaram para ir junto”, justificou-se.
Terra seguiu minimizando o encontro. “O presidente me botou sentado ali do lado dele porque ele quis. Eu estava sentado junto com o pessoal ali. Eles foram falar sobre suas experiências. Na verdade, era uma reunião para ser bem menor. No fim apareceu mais gente. Ele resolveu fazer daquela forma na hora. Aquilo ali foi uma coisa resolvida na hora. E as opiniões que se tem ali são opiniões pessoais”, argumentou.