CPI da Covid

Diferentemente do que afirmou à CPI, Osmar Terra conspirou contra Mandetta

Em conversa com o ministro Onyx Lorenzoni, o deputado, de fato, afirmou que o ideal seria Mandetta se adaptar ao discurso de Bolsonaro. Mas, à época, tentava-se viabilizar o cargo do então ministro da Saúde. Terra termina o diálogo falando justamente em substitutos do demista, que se recusava a fazer um combate negacionista ao vírus

O deputado Osmar Terra (MDB-RS) comete diversas contradições em seu depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 que ocorre nesta terça (22/6). Sem se importar com o que afirmou anteriormente em vídeos, entrevistas e postagens nas redes sociais, em diversos momentos o parlamentar simplesmente diz o oposto. Em um desses momentos, afirmou que defendia a presença de Luiz Henrique Mandetta à frente do Ministério da Saúde em uma conversa gravada com o então ministro da Cidadania, hoje ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Onyx Lorenzoni.

O diálogo foi revelado em 9 de abril de 2020, por um telefonema feito por um jornalista da CNN Brasil. Terra recebeu a ligação do jornalista durante a conversa, mas não desligou o telefone, e deu continuidade à conspiração para a saída do então ministro. “Ele (Mandetta) não tem compromisso com nada que o Bolsonaro está fazendo”, afirma Onyx. “E ele (Mandetta) se acha”, completou o deputado, já ex-ministro da Cidadania.

Mais à frente na conversa, Terra realmente afirma o que disse à CPI. “Eu acho que (Bolsonaro) deveria ter arcado (com as consequências de uma demissão)...”, afirma Onyx na gravação. “O ideal era o Mandetta se adaptar ao discurso do Bolsonaro”, responde Terra. “Uma coisa como o discurso da quarentena permite tudo. Se eu estivesse na cadeira (de Bolsonaro)... O que aconteceu na reunião eu não teria segurado, eu teria cortado a cabeça dele…”, continua o primeiro. “Você viu a fala dele depois?”, questiona o deputado.

Em seguida, Terra fala diretamente sobre a demissão de Mandetta. “Ali, para mim, foi a pá de cal. Eu já não falo com ele (Mandetta) há dois meses. Aí, acho que é xadrez. Se ele sai vai acabar indo para a secretaria do Doria [João Doria, governador de São Paulo]”, diz Onyx. “Eu ajudo, Onyx. E não precisa ser eu o ministro, tem mais gente que pode ser”, afirma Osmar Terra ao interlocutor.

À época, Osmar Terra se colocava como candidato viável ao Ministério da Saúde, com um discurso já afinado com o de Jair Bolsonaro, priorizando o negacionismo e a politização do vírus ao combate da pandemia, fazendo campanha contra as medidas não farmacológicas de combate ao vírus preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Na conversa, a dupla também fala do número de mortos por covid-19. Onyx falou em 4 mil óbitos, e Terra, entre 3 mil e 4 mil. “Vai morrer menos gente de coronavírus do que da gripe sazonal”, afirmou o ex-ministro. A pandemia já acumulou, passados 14 meses do encontro, 502.586 brasileiros mortos.

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