Em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, no Senado, nesta terça-feira (22/6), o deputado federal Osmar Terra disse que nunca defendeu a imunização de rebanho natural, apesar de já ter defendido a ideia por diversas vezes, inclusive, hoje, na oitiva. A teoria defende que as pessoas sejam contaminadas pelo vírus para que fiquem imunes, sem vacinação. A questão é amplamente rechaçada pela comunidade científica, visto que o fato de uma pessoa ser infectada pelo coronavírus não a impede de voltar a contrair a doença. Além disso, por meio da chamada “imunização de rebanho natural”, a população é exposta e mais pessoas morrem em decorrência do vírus.
“Não existe nenhuma proposta aqui de deixar a população se contaminar livremente. Nunca se fez isso. A imunidade de rebanho é uma consequência. A imunidade de rebanho é como terminam todas as pandemias, é o resultado final. Quando se chega a um percentual da população por vacina — nesse caso, vai ser importante a vacina — ou não, pelo contágio que o vírus causa, vai se chegar a um percentual que termina com a pandemia. Senão, não vai terminar. Essa é grande questão”, disse.
A imunização de rebanho por meio da vacinação é o caminho para sair da pandemia, conforme apontado pela comunidade científica. Apesar de dizer que não defende a teoria, durante o seu depoimento à CPI, Osmar Terra voltou a defender a prática. “Então, o que se estava previsto para encerrar a epidemia, com 30% a 40% da população infectada, foi para 60%, 70%, 80%. É isso que está acontecendo hoje, e a tendência é diminuir com a vacinação — ajuda — e com a imunização que as pessoas que pegaram”, afirmou em um momento.
Na CPI, ele afirmou que “a imunidade de rebanho não é uma técnica, nem é uma estratégia de enfrentamento”. “A imunidade de rebanho é o resultado final de qualquer epidemia, inclusive as gripes de inverno”, pontuou. Terra defendeu a chamada imunização natural em diversos momentos nas redes sociais. No dia 3 de março deste ano, por exemplo, ele publicou em seu Twitter: “Estudo avaliou a imunidade gerada diretamente pelo contágio do vírus, e a da vacina. E ela protege as pessoas já infectadas ou vacinadas contra a infecção por novas cepas variantes. Portanto a reinfecção é raridade e não é a regra!”
Em outra publicação, o deputado disse que “a imunidade de rebanho é a única forma de terminar uma epidemia/pandemia”. “A própria vacina é uma tentativa de alcançá-la. Em todas pandemias, ela sempre terminou com o surto antes das vacinas. Paradoxalmente quanto maior o número de infectados, mais perto do fim do surto estamos”, disse, sinalizando que seria possível alcançar a referida imunidade de forma natural — ou seja, por meio da contaminação em massa da população.
As publicações do ex-ministro são inúmeras defendendo a chamada imunidade de rebanho natural. Em fevereiro deste ano, ele escreveu: “A pandemia só termina quando atingirmos, em cada lugar, percentual alto da população imune ao vírus. A vacina contribui para imunidade de rebanho mas demora muito tempo para chegar a todos. Assim, a imunidade causada pelo vírus ativo acaba sendo mais rápida e leva epidemia para o fim”.
No dia 11 de abril, o deputado publicou: “Uma questão central, em qualquer pandemia ou epidemia de um novo vírus, é a imunidade que o vírus causa em quem é infectado e se cura. A vacina natural. Mais ainda quando leva 11 meses para ter uma vacina laboratorial para gerar imunidade”. Durante a comissão, o relator, Renan Calheiros (MDB-AL), mostra diversos vídeos contradizendo o deputado, destacando falas de Osmar Terra na defesa da chamada "imunidade de rebanho”. A comunidade científica aponta que uma pessoa que se infecta com o coronavírus pode ser contaminada novamente.