Milhares de pessoas saíram às ruas ontem no Distrito Federal e nos 26 estados do país e até no exterior para protestar contra o governo do presidente Jair Bolsonaro. No dia em que o Brasil chegou à marca de 500 mil mortes pela covid-19 (leia mais na página 7), os manifestantes reclamaram, principalmente, da postura do chefe do Executivo diante da crise sanitária e, além de defenderem o impeachment de Bolsonaro, pediram mais vacinas contra o novo coronavírus, auxílio emergencial de R$ 600, entre outras pautas de cunho social, econômico e racial.
Na capital federal, o ato aconteceu na Esplanada dos Ministérios. Movimentos sociais, grupos indígenas e políticos organizaram o protesto. Os manifestantes levaram cartazes e faixas criticando o presidente e o acusando de genocídio por conta da quantidade de óbitos pela pandemia no Brasil.
Um dos participantes do ato foi o deputado Pedro Uczai (PT-SC). Segundo ele, o governo Bolsonaro “provoca uma indignação ética e política pela falta de compromisso com a dignidade humana, pela falta de respeito com a vida de todos”. Apesar dos riscos de exposição à covid-19 por conta da aglomeração entre os manifestantes, ele disse que os movimentos de ontem foram necessários para mostrar a insatisfação da população e “retomar a esperança de colocar na mão do povo brasileiro o destino deste país”.
Um dos maiores protestos ocorreu em São Paulo, onde os manifestantes ocuparam nove quarteirões da Avenida Paulista em um ato que começou de tarde e se estendeu durante a noite. A avenida precisou ser bloqueada para o trânsito de carros. Outros pontos da capital paulista, como a Praça Roosevelt e a Praça do Ciclista, também registraram atos.
O atual cenário da pandemia no Brasil foi o principal tema dos protestos em São Paulo. Os manifestantes se solidarizaram com as famílias dos meio milhão de mortes pela covid-19 e soltaram balões em homenagem às vítimas. Eles também responsabilizaram Bolsonaro pelo descontrole da crise sanitária no país. Em uma das críticas ao presidente, um caminhão despejou água de um tom avermelhado em um trecho da Avenida Paulista para dizer que o chefe do Executivo tem culpa por todas as mortes pelo novo coronavírus.
Assim como em Brasília, diversos políticos estiveram nas manifestações de São Paulo, como o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT). Derrotado por Bolsonaro nas eleições de 2018, ele não poupou críticas ao presidente e o chamou de “verme”. “Só o impeachment vai salvar a democracia e vidas. Estava na cara que esse sujeito não ia dar a menor bola pro sofrimento da população, estava na cara que ele não ia seguir nenhuma recomendação da ciência, nenhuma recomendação do Ministério da Saúde. Ele ficou com a palhaçada de falar em tratamento precoce, em aglomerar as pessoas, em condenar o uso da máscara, em chamar de marica quem se cuidava. E o resultado está aí, 500 mil mortes oficiais por conta de um genocida que está no poder”, reclamou.
“Pior vírus”
No Rio de Janeiro, a maioria dos manifestantes protestou na Avenida Presidente Vargas, entoando cantos como “Fora, Bolsonaro” e “Eu quero vacina, não cloroquina”. Eles ainda levaram bandeiras e cartazes pedindo o impeachment do presidente, vacinação, saúde e trabalho.
Políticos discursaram em um trio elétrico e também fizeram duras críticas a Bolsonaro, como a deputada Benedita da Silva (PT-RJ), que chamou o presidente de “genocida” e “o pior vírus que estamos enfrentando neste momento”. A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) fez coro às declarações da petista e disse que as manifestações precisam continuar acontecendo até que Bolsonaro deixe a Presidência.
“É um sentimento claro que nós continuamos com força. Nós somos o que o Bolsonaro não quer. Hoje (ontem) está muito maior do que foi no dia 29 de maio. O que isso significa? Significa que o Brasil voltou a responder nas ruas. De onde, de fato, a gente nunca quis sair. Nós respondemos com a nossa indignação.”
Algumas celebridades compareceram ao ato no Rio, como o cantor Chico Buarque. Os atores Samantha Schmütz, Paulo Betti, Dadá Coelho e Malu Mader, com o marido dela, o músico Tony Bellotto, também estiveram na manifestação da capital fluminense.
Fora do país
Mais de 20 cidades europeias registraram atos contra Bolsonaro, a exemplo Madri (Espanha), Viena (Áustria), Dublin (Irlanda), Lisboa e Coimbra (Portugal), Londres (Reino Unido), Amsterdã (Holanda), Berlim, Frankfurt, Munique e Leipzig (Alemanha), Bruxelas (Bélgica) e Zurique (Suíça).
Em outros países da América do Sul, brasileiros também protestaram contra o presidente. As manifestações aconteceram em capitais como Buenos Aires (Argentina), Caracas (Venezuela) e Bogotá (Colômbia). Ainda aconteceram atos nos Estados Unidos: Austin, Boston, Chicago, Flórida e Los Angeles foram alguns dos locais que receberam atos contra Bolsonaro.