O ex-secretário de Saúde do Amazonas Marcellus Campêlo disse na manhã desta terça-feira (15/6), em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, que informou por e-mail ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello sobre a crise do oxigênio no estado no dia 7 de janeiro, às 23h45. A informação contradiz falas do general à CPI.
No dia 7, após uma reunião com a fornecedora White Martins, o ex-secretário disse que pediu para que a empresa enviasse um ofício informando sobre a situação. No documento, a empresa diz que “considerando a essencialidade do produto em destaque, servimos da presente para recomendar que a secretaria retifique e faça a aquisição de volumes adicionais ao contrato diretamente de um outro fornecedor que seja capaz de aumentar a disponibilidade do produto nas áreas críticas".
O ex-secretário disse que enviou o documento ao ex-ministro da Saúde às 23h45 do dia 7 de janeiro. A informação contradiz falas de Pazuello à CPI. No primeiro dia de depoimento à CPI, o general afirmou que soube da crise em uma reunião com o governador Wilson Lima (PSC) e com Campêlo no dia 10 de janeiro. Depois, no segundo dia de oitiva, afirmou que no dia 7 soube apenas de dificuldade logística para levar oxigênio de Belém (PA) para Manaus.
No dia 7 de janeiro, Campêlo afirmou que, de fato, conversou por telefone com Pazuello sobre problemas logísticos em relação aos insumos. O ex-ministro falou sobre a ligação, mas não comentou o referido documento da fornecedora que lhe foi enviado. Conforme o ex-secretário, antes de receber e encaminhar o documento da White Martins, ele se reuniu com uma representante da empresa que o questionou sobre quantos leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e de leitos clínicos que iriam abrir no plano de contingência.
“Ele (o representante) estava preocupado com o aumento do consumo e precisaria fazer uma programação do fornecimento. Então, nós relatamos que, aproximadamente, teríamos capacidade de implantar mais 150 leitos de UTI e, aproximadamente, 250 leitos clínicos na capital de Manaus. Esse era o plano”, disse.
O ex-secretário afirmou que o representante pediu para que não ativassem mais leitos de UTI até o sinal da empresa de que poderia ter segurança para a ampliação do fornecimento de oxigênio. “E assim fizemos: demos a ordem de não ativação, de continuarmos com a ampliação dos leitos, mas ativar os leitos somente no momento em que tivéssemos a anuência da empresa com segurança”, frisou.
Manaus sofreu, no início do ano, uma crise grave de falta de oxigênio nas unidades de Saúde, com pessoas morrendo por asfixia devido à ausência do insumo. Em janeiro deste ano, a Advocacia-Geral da União (AGU) informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o governo federal sabia da crise de falta de oxigênio em Manaus desde o dia 8 de janeiro, sexta-feira, seis dias antes de o sistema entrar em verdadeiro colapso. Na época, Pazuello também afirmou que soube da crise no dia 8.
100% da demanda
Enquanto havia iminência de falta de oxigênio no estado do Norte, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como “Capitã Cloroquina”, lançava o aplicativo TrateCov, que incentiva uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra covid-19, como cloroquina.
Além disso, depois de já saber sobre a crise, o próprio ex-ministro Pazuello participou de uma cerimônia de lançamento do aplicativo. Na ocasião, no dia 11 de janeiro, durante um discurso na capital amazonense, ele afirmou que atenderia 100% da demanda do estado. “Temos um comando conjunto ativado em Manaus que tem capacidade de logística de apoiá-los em muitas demandas, e ele está sendo demandado e está cumprindo a sua missão. (...) Tudo o que me foi pedido, 100%, ou está sendo entregue ou já foi entregue, e nós podemos apoiar no que mais o estado e o município pedir”.
O ministro foi ao estado justamente devido à situação do sistema de saúde na capital, tendo confirmado em sua fala a crise de oxigênio. “Estamos vivendo crise de oxigênio? Sim. De abertura de UTIs? Sim. De pessoal? Sim. A nossa saúde de Manaus já começa com 75% de ocupação. Qual é a novidade? Então, é muito importante medidas que diminuam a entrada (hospitalar). Precisa tomar medidas para reduzir a entrada nos hospitais de outras doenças”, disse.