Após se filiar ao Patriota, o senador Flávio Bolsonaro (RJ) abre caminho para a chegada do pai, o presidente Jair Bolsonaro. O parlamentar afirmou, ontem, durante convenção do partido, que o chefe do Executivo deseja se integrar à sigla, mas que, para isso, precisa de segurança jurídica e que o racha interno da agremiação seja resolvido.
“A percepção que dá é de que não estão entendendo qual é o tamanho do jogo que a gente quer jogar. Já convidei outra vez e vou convidar de novo. Eu quero que a gente jogue a Série A. Ninguém está vindo aqui para jogar a Série B mais não, porque muito mais coisa está em jogo do que uma função ou outra do partido”, ressaltou.
De acordo com o senador, Bolsonaro deseja uma legenda livre de “preocupações partidárias”. “Reafirmo que a preocupação minha e do presidente, que está aguardando os desdobramentos do Patriota internamente, é que nós não queremos preocupações partidárias. O presidente já tem o país para tomar conta, e a gente tem de ocupar a cabeça com as questões eleitorais”, destacou. “A nossa preocupação é termos autonomia na hora de tomada de decisão, na hora que formos fechar palanques para estados, governadores, senadores.”
O filho “01” de Bolsonaro tentou passar uma mensagem apaziguadora, frisando que a eventual filiação do presidente não significa que ele queira tomar espaço. “Ninguém quer tomar espaço de ninguém. Eu só quero chamar todos a uma reflexão: que eu compreendo aqueles que não se sentiram confortáveis com a nossa vinda para o Patriota, com a minha vinda, pelo menos, até o momento”, disse. “Eu entendo. Dentro de um partido, nunca haverá 100% de consenso.”
Ele citou o exemplo do PSL, “que passou de um deputado para 52 em apenas uma eleição”. “E por que a gente não pode repetir isso no Patriota? Vamos pensar grande, maior. Tem muito mais coisa em jogo do que apenas um diretório municipal, estadual".
A polarização entre Bolsonaro e o ex-presidente Lula para as eleições de 2022 foi enfatizada por Flávio. “Acho que já ficou bem claro para todo mundo qual é o cenário de 2022, ou é o lado A ou o lado B. O outro lado voltando, pode ter certeza de que é o fim do nosso país. Basta olhar para os exemplos que temos aqui no entorno do nosso país”, acrescentou.
Por fim, o senador relatou que o mandatário deverá se reunir nesta semana com a bancada do partido para tomar a decisão.
Imbróglio
O chefe do Planalto tem pressa para escolher um partido ao qual se filiar por causa das eleições de 2022. No entanto, um novo imbróglio surgiu. O Cartório do Primeiro Ofício de Notas do Distrito Federal, do Núcleo Bandeirante, emitiu uma nota devolutiva exigindo que o presidente nacional do Patriota, Adilson Barroso, preste mais esclarecimentos sobre o quórum qualificado da convenção ocorrida em 31 de maio para que possa registrar o resultado, que aprovou a entrada de Flávio.
Com o objetivo de tentar uma conciliação do partido e evitar o naufrágio das chances de contar com Bolsonaro, Adilson Barroso convocou nova convenção para ontem.
Apesar de recente, a migração do clã Bolsonaro para a sigla provocou a expulsão de membros como o vereador paulistano e advogado do MBL (Movimento Brasil Livre) Rubinho Nunes, avesso ao filho do chefe do Executivo, assim como Gabriel Azevedo, vereador de Belo Horizonte, opositor do governo. Há, ainda, um racha interno entre duas alas.
A primeira é chefiada por Adilson Barroso, que defende a ida de Bolsonaro para o partido, com o objetivo de torná-lo “o maior do Brasil”. Do outro lado, está o vice-presidente, Ovasco Resende, que reclamou da falta de diálogo.
Resende e outros membros recorreram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra Adilson Barroso, acusando-o de irregularidades na organização da convenção em que foi anunciada a entrada do filho de Bolsonaro. Ele alega que o presidente da legenda alterou a composição do colégio eleitoral no sistema do TSE para garantir maioria na votação que mudou o estatuto e favoreceu a entrada do senador. Para tanto, houve a destituição de quatro delegados, além da dissolução de cinco diretórios estaduais, sem consulta interna. Outra acusação é de ter promovido a convenção sem divulgá-la, contrariando o estatuto.
Fundo partidário
O Patriota ficou em 22º lugar no ranking das siglas que receberam fundo eleitoral nas disputas municipais de 2020, com R$ 24,5 milhões. De acordo com o orçamento de 2021, o Patriota terá R$ 22,4 milhões de fundo partidário para usar neste ano, valor que o coloca em 19º na lista de 22 siglas com direito à verba. No Congresso, o Patriota conta apenas com seis deputados federais e, com a ida de Flávio, agora terá um senador.