Marco Antônio de Oliveira Maciel nasceu no Recife no dia 21 de julho de 1940, filho de José do ex-deputado federal Rego Maciel e de Carmem Sílvia Cavalcanti de Oliveira Maciel. Estudou na Faculdade de Direito da Universidade de Pernambuco, concluindo o curso em 1963. Foi líder estudantil, deputado federal, senador duas vezes, governador e vice-presidente da República por dois mandatos. Era um político conservador, mas se destacou pela capacidade de diálogo. Como vice do presidente Fernando Henrique Cardoso, destacou-se pela discrição com que atuava, quase sempre driblando as perguntas incômodas da imprensa e agindo nos bastidores em missões delicadas. “Se me pedirem uma palavra para caracterizá-lo, diria: lealdade. Viajei muito, sem preocupações: Marco exercia com competência e discrição as funções que lhe competiam. Deixa saudades”, comentou ontem o ex-presidente da República, ao saber da morte do político pernambucano em Brasília.
Marco Maciel acreditava que a política era dialógica — “o pensamento deve preceder a ação” — e valorizava o pluralismo. “Devemos buscar sempre, entre o que nos separa, aquilo que pode nos unir, porque, se queremos viver juntos na divergência, que é o princípio vital da democracia, estamos condenados a nos entender”, dizia. A aparência física lhe valeu o apelido de “Mapa do Chile”. Ao tomar posse como “imortal” na Academia Brasileira de Letras (ABL), porém, o acadêmico Marcos Vilaça comparou-o a Bernard Shaw, assim descrito por Bertold Brecht: “Eis uma pessoa quase sobrenatural... não podia defini-lo melhor, já que se move e fala constantemente. E monstruosamente alto e magro... um ar cavaleiresco de D. Quixote, qualquer coisa de apostólico... sempre transbordante de vida e sempre a contar histórias interessantes...”
Político da antiga Arena, em novembro de 1976, Marco Maciel foi eleito presidente da Câmara dos Deputados para o biênio 1977-1978. Por sua atuação em favor da “distensão lenta e gradual” do regime, acabou indicado pelo presidente Ernesto Geisel para assumir o governo de Pernambuco, que governou até 1982. Elegeu-se então para o Senado, derrotando Cid Sampaio, do MDB, por 90 mil votos.
No final de 1983, porém, começou a ganhar a proposta de restabelecimento das eleições diretas para presidente da República. No Congresso Nacional, o deputado Dante de Oliveira (PMDB-MT) apresentou emenda constitucional que propunha o restabelecimento das eleições presidenciais diretas já para a sucessão de Figueiredo. A campanha das Diretas Já reuniu milhões de pessoas nas praças públicas nos primeiros meses de 1984, mas em janeiro de 1984, levada à votação na Câmara no dia 25 de abril de 1984, a emenda Dante de Oliveira não obteve o quórum mínimo de 2/3 dos votos favoráveis para aprovação. Maciel era a favor das diretas, mas no pleito seguinte. Era pré-candidato no PFL.
A essa altura, a disputa interna no PDS na sucessão do presidente João Baptista Figueiredo caminhava para uma polarização entre as candidaturas de Paulo Maluf e Mário Andreazza. Diante desse quadro, Maciel desistiu de sua pré-candidatura e integrou-se ao grupo dissidente do partido, do qual também fazia parte o vice-presidente Aureliano Chaves, que articulava o apoio a Tancredo Neves (PMDB). Logo depois, rompeu publicamente com o PDS e assumiu, ao lado de José Sarney, Aureliano Chaves e outros pedessistas dissidentes, o trabalho de articulação do movimento da Frente Liberal. Os entendimentos resultaram na formação da Aliança Democrática, frente que oficializou o lançamento do governador mineiro Tancredo Neves à presidência da República, tendo o ex -pedessista José Sarney como vice-presidente. A chapa venceu o pleito presidencial indireto realizado em 15 de janeiro de 1985, derrotando no Colégio Eleitoral o candidato do PDS, Paulo Maluf.
Impeachment
Em março de 1985, pouco antes de sua posse, Tancredo Neves foi acometido por grave problema de saúde que o impediu de assumir a presidência. Em seu lugar, o vice José Sarney foi empossado provisoriamente no dia 15 de março, mantendo a composição do ministério antecipada por Tancredo, com Marco Maciel à frente da pasta da Educação. A reforma ministerial promovida pelo presidente Sarney no início de 1986 resultou em sua ida para a chefia do Gabinete Civil da Presidência da República. Seria, então, o principal articulador do governo com o Congresso Nacional.
Segundo o ex-presidente José Sarney, Marco Maciel desempenhou suas funções com integridade, sobriedade e grande senso de responsabilidade. Em abril de 1987, Maciel deixou o Gabinete Civil e assumiu então a presidência nacional do PFL, retornando ao Senado, onde se incorporou aos trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte. “Em sua visão de intelectual, foi responsável por grande contribuição à legislação brasileira desses últimos tempos”, disse Sarney, ontem, ao comentar a morte do amigo. Em outubro de 1990, Maciel foi reeleito senador. No início da nova legislatura, em fevereiro de 1991, assumiu a liderança do governo Collor no Senado.
Em maio de 1992, o governo Collor foi abalado por denúncias feitas pelo irmão do presidente, Pedro Collor de Mello, que apontavam a existência de amplo esquema de corrupção e tráfico de influência no interior da administração federal. Marco Maciel demitiu-se da liderança do governo no Senado e, criticado por Collor, declarou-se impossibilitado de defender o governo por não ter recebido do Palácio do Planalto qualquer prova em contrário ao que tinha sido apurado pela CPI. O pedido de impeachment de Collor foi votado e aprovado na Câmara em 29 de setembro, com 441 votos favoráveis e 38 contrários. Afastado da presidência após a votação na Câmara, Collor renunciou ao mandato em 29 de dezembro de 1992.
Vitórias no 1º turno
O vice Itamar Franco, que já vinha exercendo o cargo interinamente desde 2 de outubro, foi efetivado na presidência da República. Imediatamente, Maciel passou a defender o apoio do PFL ao novo governo. Em fevereiro de 1994, propôs que o PFL desistisse de lançar candidato próprio às eleições presidenciais. Na época, as pesquisas eleitorais indicavam ampla vantagem do candidato do PT, Luís Inácio Lula da Silva. Após negociações, o PFL, o PSDB e o PTB acertaram a composição de uma chapa encabeçada por Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, ministro da Economia do governo Itamar Franco. O bem-sucedido Plano Real, que controlara a inflação, projetara o tucano como alternativa eleitoral.
Pelo acordo, caberia ao PFL a indicação do nome do vice da chapa. O PSDB inicialmente não aceitou a indicação de Maciel, temendo que um nome tão ligado aos governos anteriores pudesse prejudicar a campanha. A escolha do vice pefelista acabou recaindo então sobre o senador alagoano Guilherme Palmeira. No início de agosto, porém, quando o candidato do PSDB já assumia a primeira colocação nas pesquisas de intenção de voto, o nome do senador Guilherme Palmeira foi atingido por denúncias.
Temendo desgastes eleitorais, a direção do PSDB exigiu que o PFL substituísse Palmeira. A cúpula pefelista indicou então o nome de Maciel para o cargo e o PSDB, que dessa vez acatou rapidamente a indicação. Realizada as eleições em outubro, a chapa Fernando Henrique-Marco Maciel recebeu 34.362.726 votos, mais da metade do total dos votos válidos, o que lhe garantiu a vitória já no primeiro turno. Em 1998, a chapa Fernando Henrique/Marco Maciel venceria a disputa novamente no primeiro turno, com 53% dos votos válidos, derrotando o petista, mais uma vez. Em 1º de janeiro de 2003, Maciel deixou a vice-presidência da República e, no mês seguinte, assumiu sua vaga no Senado, onde manteve intensa atuação legislativa, até janeiro de 2011. E stava filiado ao DEM, o antigo PFL.
Marco Maciel morreu na madrugada de ontem. Internado em um hospital particular do Distrito Federal desde o dia 30 de março, faleceu em decorrência de um “quadro infeccioso respiratório”. Seu corpo foi velado por parentes e amigos no Senado Federal e sepultado no final da tarde, no cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul. Em 2014, Maciel foi diagnosticado com mal de Alzheimer, doença que destrói a memória e outras funções. No começo do ano, teve covid-19. Sua esposa, Ana Maria Maciel, com quem teve três filhos, informou que ele havia se tratado em casa, com orientação médica, e se recuperou da infecção. Em maio, Maciel recebeu a segunda dose da vacina contra o novo coronavírus.