A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 recuou no pedido de quebra de sigilo do vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do presidente Jair Bolsonaro. Fala-se em convocar o vereador desde que ele foi citado pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta em oitiva na CPI. Até o momento, no entanto, não houve consenso no G7, grupo de sete senadores de oposição ou independentes ao governo que são titulares na comissão. O grupo é maioria, enquanto a base governista tem quatro senadores titulares.
O grupo decidiu votar quebras de sigilo telefônico e telemático de algumas pessoas nesta semana. Após amplo debate entre eles, houve a intenção de colocar o nome do vereador. A ideia seria coletar informações, e depois chamá-lo. Existe, entretanto, resistência dentro do G7, por receio de politizar a comissão, e o nome de Carlos não entrou na pauta desta quarta-feira. Além disso, a ideia é pedir a quebra de sigilo apenas de casos com informações robustas para evitar impedimento judicial.
Eles também recuaram no pedido der quebra de sigilo do ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten, que não entrou em pauta. A reportagem apurou que a retirada do nome do ex-secretário foi uma estratégia do próprio presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM). A intenção é aguardar mais informações para um pedido de quebra mais robusto, quando a expectativa é de que cheguem mais documentações nos próximos dias.
Na pauta de requerimentos do dia, o presidente da CPI não incluiu o nome de Carlos, o 02 de Bolsonaro. Os parlamentares do G7 se reuniram na noite da última terça-feira (8) e discutiram as convocações e quebras de sigilo. Ambas as questões foram incluídas na pauta do dia, mas o grupo acabou não votando as quebras após um pedido do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), que solicitou tempo para que seja possível “aprofundar a análise da necessidade de votar”. Aziz deixou os requerimentos para votação na quinta-feira (10).
O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que a quebra de sigilo é uma medida dura, quando é uma "violação da inviolabilidade pessoal do indivíduo", e que é preciso de elementos robustos para tal. Questionado sobre o recuo em relação a Wangarten, negou que haja recuo. De acordo com ele, estão medindo “passo a passo, juntando informações”, visto que um pedido de quebra de sigilo é uma medida dura.
“Os elementos que já temos na CPI levam aos nomes que estão apresentados a se ter a quebra de sigilo. Os nomes que estamos apresentando, os documentos que temos nos leva a necessidade de quebra de sigilo desses daí. Os outros, ainda não. Não queremos correr o risco de ser anulada na Justiça. Então, os nomes que hoje colocamos são os que analisamos, têm elementos fortes e não se corre o risco de as quebras serem anuladas”, disse.
O senador Humberto Costa (PT-PE) também negou que tenha havido um recurso em relação a Carlos Bolsonaro, mas, sim, uma avaliação de que ainda não há elementos suficientes.
As quebras de sigilo que estavam na pauta do dia são do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello; da secretária de Gestão do Trabalho e Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro; do assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Filipe Martins; do advogado criminalista Zoser Hardman, ex-assessor especial de Pazuello na Saúde; do tenente-médico Luciano Dias Azevedo, da Marinha; e do auditor do Tribunal de Contas da União (TCU) Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques, autor de um “estudo paralelo” no qual sustenta que metade das mortes creditadas à covid-19 não ocorreu por causa da doença.
"Gabinete paralelo"
Carlos é apontado na CPI como suspeito de integrar o chamado “gabinete paralelo” depois de ter sido citado por Mandetta e pelo presidente da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo. Ele falou sobre uma reunião no dia 7 de dezembro do ano passado com Wajngarten. Na ocasião, estava presente a diretora jurídica da Pfizer.
Murillo leu um relato da diretora, que afirmou que após cerca de uma hora de reunião, Wajngarten recebeu uma ligação, saiu da sala e retornou. Minutos depois, entraram na sala de reunião Filipe Martins e Carlos Bolsonaro. Wajngarten, então, explicou aos dois os esclarecimentos prestados pela Pfizer até então, segundo o executivo da farmacêutica.