Em meio ao desgaste na popularidade, o presidente Jair Bolsonaro tenta desviar o foco da CPI da Covid e do ritmo lento de vacinação no país aprovando a realização da Copa América no Brasil, apesar do posicionamento contrário de cientistas. As capitais escolhidas pelo governo federal para receber os jogos, Brasília, Cuiabá, Goiânia e Rio de Janeiro, passam por dificuldades para conter a pandemia.
Em Goiás, o Ministério Público (MP-GO) recomendou ao governador Ronaldo Caiado (DEM) que não recebesse a Copa América, citando a alta taxa de ocupação dos leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) e enfermaria nos hospitais estaduais, municipais e privados de Goiânia destinados a tratar casos de covid-19. O órgão menciona, ainda, os decretos municipais da capital, que restringem uma série de atividades comerciais, com o objetivo de evitar aglomerações. Foi fixado prazo de cinco dias para que o estado informe que providências tomará. O Conselho Estadual de Saúde também emitiu nota de repúdio à realização da competição.
Na quarta-feira, o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB), também demonstrou insatisfação com a marcação de jogos para a cidade. Ele pediu ao governo federal que, em contrapartida, a população local seja vacinada contra a covid-19. Já o Executivo estadual defendeu que a proposta foi aceita por seguir protocolos de saúde, como a ausência de torcedores.
Para o cientista político Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, além de desviar o foco de questões nos quais tem o nome envolvido, Bolsonaro pretende criar uma agenda positiva para o governo. No entanto, apontou ele, a medida pode ter o efeito reverso.
“Não me parece que o Brasil esteja em condições, neste momento, dado ao platô estacionado, de receber um evento internacional. Não há sentido algum. É uma tentativa, entre muitas outras, de desviar a atenção. Há um desgaste da popularidade. Chegou a baixar dos costumeiros 30% de base de apoio que ele tem. Nas projeções para 1º e 2º turnos de 2022, ele já é derrotado especialmente por Lula”, frisou. “Essa tentativa de Copa é para tentar desviar o foco e, na perspectiva dele, trazer uma agenda positiva. A grande questão é que a maioria dos cientistas não entende que será benéfica. O saldo não será positivo, e isso pode, inclusive, inflamar manifestações contra o governo.”
Ontem, Bolsonaro aproveitou a agenda sem compromissos oficiais no feriado de Corpus Christi para andar de moto e visitar uma igreja em Formosa (GO). Durante a missa, o mandatário usou máscara e tirou fotos com apoiadores, provocando aglomeração. Em seguida, retirou o item de segurança e fez um passeio nos arredores do Salto do Itiquira, retornando para o Palácio da Alvorada.
Na terça-feira, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), deu prazo de cinco dias para Bolsonaro explicar por que circula em público sem usar máscaras e causando aglomerações. O magistrado é o relator de uma ação do PSB que acusa o chefe do Executivo de descumprir medidas sanitárias. Na ação levada à Corte, o partido pede que seja determinado ao presidente que não circule sem a proteção facial, sob pena de multa.