A médica Nise Yamaguchi aproveitou o intervalo na sessão desta terça-feira (1º/6) da Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid, após a inquirição do senador Otto Alencar (PSD-BA), para pesquisar na internet as respostas às perguntas do parlamentar. No plenário, inicialmente, ela demonstrou desconhecimento sobre a história da covid-19 e sobre os riscos do uso de medicamentos que não são antivirais para tratar a doença. A pneumologista e entusiasta da cloroquina para tratamento do coronavírus presta esclarecimentos a senadores sobre o suposto gabinete paralelo e a opção do presidente da República, Jair Bolsonaro, pelo medicamento, que não tem eficácia científica no tratamento da doença.
Foi o próprio senador Otto Alencar quem afirmou que a imunologista aproveitou o tempo que pediu ao colegiado para fazer uma pesquisa rápida após ter dificuldades de respondê-lo. “Médico audiovisual. Viu, ouviu e fala sem comprovação científica”, ironizou o parlamentar. Segundo ele, ela usou da suspensão da sessão para se informar sobre a síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS, na sigla em inglês,) que é uma das variantes do coronavírus anterior à covid-19. “Eu perguntei se ela sabia sobre MERS, uma doença causada na Arábia Saudita, da família do coronavírus. Eu falei e ela disse que não sabia. Quando ela voltou, ela disse que realmente teve MERS. Foi lá e leu.
Para Otto Alencar, o colegiado deverá aprovar a quebra de sigilo de Yamaguchi e dos irmãos, apontados como participantes de reuniões no Ministério da Saúde. Para o senador, é preciso saber se eles intermediaram venda superfaturada de medicamentos na pasta. “Mostrei o estudo Einstein, de julho, comprovando a ineficácia. Ela trabalhou lá. Cancelaram o contrato dela por isso. Agora, como ela trabalhou lá, ela bota um paciente na oncologia clínica. Tem que quebrar sigilo”, disse. Ele avaliou que Nise atuou como outros depoentes, de forma pouco objetiva e com contradições, para proteger o presidente da República.
O social democrata se disse contrário, porém, a uma reconvocação de Nise não mais como convidada, mas como testemunha. Nesse caso, se fosse pega mentindo ela poderia ser presa. “O Omar (Aziz) não vai prender ninguém. Não prendeu o Fábio Wajngarten (ex-secretário de Comunicação Social da Presidência), vai prender quem? Por isso, quando quiseram transformar em testemunha, eu não aceitei. Não vai prender. Ela mentiu muito. Eu terminei de inquirir ela. Olha que desonestidade científica. Ela pediu para ir lá fora para ler sobre o MERS na Arábia Saudita. Entramos lá e ela estava lendo porque ela não sabia o que dizer”, criticou
"Sem informação técnica"
O senador acusou a depoente de ser leviana com a ciência e disse estar claro que o gabinete paralelo não tinha informações técnicas o suficiente para tomar decisões como colocar uma recomendação do uso da cloroquina para a população no site do Ministério da Saúde. “Se eu tenho arritmia e começo a tomar cloroquina, com o tempo que eu vou tomando remédio, o espaço entre uma batida (do coração) e outra pode ir aumentando. Acumula e pode dar outra reação. Como passa uma hidroxicloroquina para o Brasil tomar?”, questionou.
Imunidade de rebanho
O senador lembrou, também, que a médica já defendeu a imunidade de rebanho. “Como fazer imunidade de rebanho? Vai faltar rebanho. Como vai constatar se fez imunidade de rebanho se não tem exame laboratorial para comprovar que alguém ficou imune? A pessoa tem a doença e não desenvolve a imunidade celular. A imunidade da célula ocorre quando ela reconhece o agressor e não aceita. Para fazer isso, tem que se fazer um exame de pesquisa de anticorpos neutralizante. Tem 12 milhões de exames para isso? Não tem. É um crime. Uma coisa mentirosa”, disparou.