CPI da Covid

Nise diz que recebeu de Bolsonaro informação sobre 'tratamento precoce'

Comunidade científica nega a existência desse tipo de tratamento em pacientes com covid-19. Afirma ainda que a melhor forma de se proteger é por meio da vacinação, uso de máscara e distanciamento social

A médica Nise Yamaguchi afirmou, em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, no Senado, nesta terça-feira (1º/6), que recebeu do presidente Jair Bolsonaro informações sobre o chamado “tratamento precoce”, que não existe no caso da covid-19. A comunidade científica afirma que não há esse tipo de tratamento em pacientes com a doença, e que a melhor forma de se proteger é por meio da vacinação, uso de máscara e distanciamento social.

“Recebi dele informação de que tinha um tratamento precoce sendo discutido na França, nos Estados Unidos”, disse Nise. A médica por vezes fala de “tratamento precoce”, afirmando que trata-se de tratamento dos sintomas leves, o que seria um tratamento inicial, que é incentivado por autoridades sanitárias e é diferente de tratamento precoce. Para a médica, nesse tratamento devem ser usados medicamentos como cloroquina e hidroxicloroquina, que não possuem eficácia comprovada contra covid-19.

“Expliquei (ao presidente Bolsonaro) que precisávamos de dados científicos e que, por isso, eu ia conversar com o Conselho Federal de Medicina (CFM) para validar a possibilidade do paciente de receber o medicamento e do médico de prescrever. Isso foi bastante importante para mim, porque eu pude participar de discussões técnicas”, afirmou Nise.

imunologista disse que se reuniu cerca de quatro vezes com Bolsonaro e “inúmeras” vezes no Ministério da Saúde. Com o ex-ministro Eduardo Pazuello, diz ter se reunido em duas ocasiões — uma presencial e outra virtualmente, na qual o general queria entender o motivo pelo qual ela discutia o tratamento precoce, segundo Nise.

A médica nega existência de um gabinete paralelo de aconselhamento ao presidente, e se intitula como “colaboradora eventual”. O gabinete está sendo discutido na CPI, que acredita que ele seria um assessoramento paralelo que alimentaria o presidente da República com informações negacionistas no combate à pandemia de coronavírus.

Vacinação

Ela contou que esteve com o presidente em uma outra reunião na qual se discutiu a possibilidade de se prescrever determinados medicamentos a pacientes com covid-19. Nise é defensora do uso de cloroquina e de hidroxicloroquina contra a doença, apesar de não haver eficácia comprovada. Mas ela garante nunca ter conversado com o presidente sobre vacinação. Questionada se concordava com as posições do presidente em relação à vacina contra covid-19, se esquivou.

“Cientificamente, não tenho como dizer se é acertada, porque uma decisão política, econômica, e muitas coisas que eu desconheço. Os estudos científicos da vacina estão acontecendo, ainda não foram liberados vários”, disse. Questionada sobre atrasos na aquisição da vacina, disse que nunca participou de nenhuma reunião sobre isso. “Eu não sei o que houve em relação a esses atrasos que se ouve pela mídia. Não tenho como opinar sobre isso”, afirmou.

Inicialmente, Nise repetiu que nunca se reuniu sozinha com o presidente. Questionada pela senadora Eliziane Gama, que a confrontou com a agenda do presidente, em que constava um encontro apenas com ela, justificou que assessores do presidente também estavam presentes.

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