Um e-mail encaminhado à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 mostra uma mensagem do ex-diretor do Departamento de Logística (DLOG) do Ministério da Saúde Roberto Dias manifestando interesse na oferta de doses da vacina AstraZeneca, ofertadas pela empresa Davati Medical Supply. Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que se apresenta como representante da empresa, relatou, em entrevista à Folha de S.Paulo, que recebeu um pedido de propina de Dias quando tentou vender 400 milhões de unidades do imunizante.
“Prezados, este ministério manifesta total interesse na aquisição das vacinas desde que atendidos todos os requisitos exigidos. Para tanto, gostaríamos de verificar a possibilidade de agendar uma reunião hoje, às 15h, no Departamento de Logística em Saúde. No aguardo, agradecemos antecipadamente”, diz e-mail enviado às 10h37, pedindo um encontro menos de cinco horas depois. A referida mensagem foi enviada dia 26 de fevereiro, um dia depois do suposto encontro relatado por Dominguetti.
De acordo com Dominguetti, o pedido de propina ocorreu em um jantar no restaurante Vasto, no Brasília Shopping, na capital federal. Na ocasião, Dias, que foi exonerado na última terça-feira (29), estava acompanhado de um empresário e um militar do Exército. A suspeita da CPI é de que o referido militar seja o tenente-coronel Marcelo Blanco, que foi convocado à oitiva nesta quarta-feira.
Blanco já foi assessor do DLOG na gestão Dias, e ocupava o cargo de diretor substituto no departamento. Ele foi dispensado da função, conforme publicado em edição extra do Diário Oficial da União hoje, quando passou a ocupar o posto o general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes. Dominguetti também foi convocado, e irá depoir na CPI na próxima sexta-feira (2/7).
Sem "acerto"
Também uma mensagem obtida pela CPI mostra o encaminhamento da proposta partindo de Herman Cardenas, que seria o CEO da Devati. Nela, ele informa que está em anexo a oferta para 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca, "como solicitado pelo senhor Luiz Paulo Dominguetti Pereira".
Em entrevista à Folha, Dominguetti falou sobre a referida reunião que teria ocorrido no dia 26 de fevereiro. Segundo ele, Roberto Dias pediu para que ele ficasse em uma sala enquanto ia para outra reunião. Depois, o representante disse ter recebido uma ligação perguntando se haveria “acerto”, ao que Dominguetti teria dito que não.
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