O Ministério da Saúde anunciou, nesta terça-feira (29/6), a exoneração de Roberto Dias do cargo de diretor de Logística da pasta. A decisão deve ser publicada, hoje, no Diário Oficial da União. A saída do funcionário ocorre após o escândalo de propina noticiado pelo jornal Folha de S. Paulo. Segundo a publicação, Luiz Paulo Dominguetti Pereira, representante da empresa de vacinas Davati Medical Supply, relatou ter recebido pedido, de Dias, de propina de US$ 1 por dose em troca de contrato com o Ministério da Saúde.
A Davati Medical Supply tentava vender 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca a US$ 3,5 cada dose (o valor passou, depois, para US$ 15,5). De acordo com Dominguetti, Dias teria afirmado que a negociação “não avançava dentro do ministério se a gente não compusesse com o grupo, que existe um grupo que só trabalhava dentro do ministério”. “Se a gente conseguisse algo a mais, tinha de majorar o valor da vacina, que a vacina teria de ter um valor diferente do que a gente estava propondo”, frisou o representante da Davati Medical Supply. “Aí eu falei que não tinha como, não fazia, mesmo porque a vacina vinha lá de fora e que eles não faziam, não operavam daquela forma. Ele me disse: ‘Pensa direitinho, se você quiser vender vacina no ministério, tem que ser dessa forma’.”
Questionado sobre qual seria a “forma”, Dias teria apontado: “Acrescentar US$ 1”. “Dariam 200 milhões de doses de propina que eles queriam, com R$ 1 bilhão”, frisou. Segundo o representante das vacinas, o jantar da “propina” aconteceu em 25 de fevereiro, num shopping de Brasília. Ele disse ter considerado a situação ainda mais estranha porque havia mais duas pessoas com Dias. “Era um militar do Exército e um empresário lá de Brasília”, contou.
Roberto Ferreira Dias teria sido indicado ao cargo pelo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), e a nomeação ocorreu em 8 de janeiro de 2019. O parlamentar nega.
A CPI da Covid pretende ouvir Luiz Paulo Dominguetti Pereira na sexta-feira. “Brasileiros morrendo de covid, e bandidos atrás de vantagens ilícitas. Precisamos apurar tudo”, afirmou, nas redes sociais, o senador Alessandro Vieira (cidadania-SE), integrante da CPI. O senador Omar Aziz, presidente da CPI, também comentou o assunto, caracterizando como “uma denúncia forte”.
À GloboNews, Roberto Dias se disse alvo de retaliação por ter cobrado de Dominguetti que comprovasse representar a AstraZeneca, o que, segundo o diretor, nunca aconteceu.
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Mais suspeitas
Em outro capítulo sobre a Covaxin, Luis Miranda teria recebido oferta de propina “milionária” para não atrapalhar a compra do imunizante, após ter se reunido com Bolsonaro para alertá-lo sobre irregularidades no contrato. A informação é da Revista Crusoé.
Conforme a publicação, houve dois encontros em que valores e a garantia de reeleição foram oferecidos ao parlamentar. Em uma das reuniões, Ricardo Barros estava presente.
Ainda de acordo com a revista, a primeira proposta ocorreu numa reunião numa casa no Lago Sul, em 31 de março. Miranda foi convidado a participar do encontro por um lobista de Brasília para discutir a negociação da vacina indiana. A reunião foi feita com Silvio Assis, homem de confiança de Barros.
No encontro, Assis tentou fazer de Miranda um aliado e ainda pediu que o parlamentar convencesse o irmão, Luis Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde, a “parar de criar embaraços para o negócio”, que os dois seriam recompensados pela contribuição. A conversa não avançou.
Segundo a Crusoé, um mês depois, em maio, uma nova reunião foi feita, no mesmo local. Dessa vez, Assis estava acompanhado de Barros. Assis teria prometido a Miranda uma participação na venda de cada dose ao Ministério da Saúde, de seis centavos de dólar. Caso o governo concluísse a compra de 20 milhões de doses da Covaxin, o deputado levaria US$ 1,2 milhão (R$ 6 milhões).
Miranda teria se recusado a participar do esquema e, de acordo com fontes da revista, teria chegado a ameaçar dar voz de prisão a Assis. À Crusoé, o parlamentar afirmou que não vai falar sobre a denúncia. Já o lobista Assis confirmou a presença de Miranda na casa, mas negou que o tema dos encontros fosse a compra das vacinas. Barros voltou a negar participação em negociações da Coxaxin..
“Rolo”
O deputado Ricardo Barros já tem o nome envolvido em outra investigação: sobre o contrato de compra da vacina Covaxin. O deputado Luis Miranda disse ter relatado ao presidente Jair Bolsonaro as suspeitas de ilegalidade na negociação do imunizante indiano. O chefe do Planalto teria dito, então, que devia ser “mais um rolo” de Barros. O líder do governo na Câmara nega ter participação nas tratativas do contrato.
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