COVID-19

Luis Miranda recebeu proposta de propina para não atrapalhar compra da Covaxin

Parlamentar se encontrou duas vezes com lobista que o pediu para se tornar aliado, segundo revista. Em uma das reuniões, Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, estava presente

Correio Braziliense
postado em 29/06/2021 22:13 / atualizado em 29/06/2021 22:13
 (crédito: Pedro França/Agência Senado)
(crédito: Pedro França/Agência Senado)

O deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) recebeu oferta de propina “milionária” para não atrapalhar compra da Covaxin após se reunir com o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), para tentar alertá-lo das irregularidades no processo de compra da vacina. A informação é da Revista Crusoé.

Houve dois encontros em que valores e a garantia de reeleição foram oferecidos ao parlamentar. Em uma das reuniões, o líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP/PR), estava presente.

A primeira foi proposta em uma reunião em uma casa no Lago Sul, em 31 de março. Luis Miranda foi convidado a participar do encontro por um lobista de Brasília para discutir a negociação da vacina indiana. De acordo com a Crusoé, a reunião foi feita com Silvio Assis, nome envolvido em outros esquemas de corrupção e homem de confiança de Ricardo Barros -- apontado por Miranda como o deputado responsabilizado por Bolsonaro por estar à frente do esquema.

No encontro, Assis tentou fazer de Miranda um aliado e ainda pediu que o parlamentar convencesse o irmão, servidor da Saúde, a “parar de criar embaraços para o negócio”, e que seriam recompensados pela contribuição. A oferta era de que a reeleição de Miranda estaria garantida caso não atrapalhasse a compra. A conversa não foi para a frente.

Um mês depois, em maio, uma nova reunião foi feita, na mesma casa. Dessa vez, Assis estava acompanhado do próprio Ricardo Barros, líder do governo na Câmara. O tom da conversa foi o mesmo da primeira, no entanto, foi mais longe.

De acordo com fontes da Crusoé presentes ao encontro, o lobista, Sílvio Assis, afirmou que Miranda teria uma participação na venda de cada dose ao Ministério da Saúde, de seis centavos de dólar. Caso o governo concluísse a compra de 20 milhões de doses da Covaxin, o deputado levaria R$ 1,2 milhão de dólares, cerca de R$ 6 milhões.

Miranda teria se recusado a participar do esquema e, de acordo com fontes da revista, teria chegado a ameaçar dar voz de prisão a Assis. À Crusoé, o parlamentar afirmou que não vai falar sobre a denúncia, apenas se a Polícia Federal o convocar. Já o lobista Assis confirmou a presença de Miranda na casa referida mas negou que o tema dos encontros fosse a compra das vacinas. “Se tratou de vacina, não foi comigo, não”, disse.

Procurado, Ricardo Barros não comentou sobre o assunto.

Irmãos Miranda denunciaram pressões internas para compra de imunizante indiano

O irmão do deputado Luis Miranda, o servidor da Saúde Luis Ricardo Miranda, foi quem relatou ao Ministério Público Federal (MPF) ter sofrido "pressões anormais" de integrantes da alta cúpula da pasta para agilizar a importação do imunizante indiano. Diante da identificação e repercussão dos embaraços, o servidor relatou ter procurado o irmão, que, por sua vez, resolveu levar ao presidente Bolsonaro a situação.

Na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, na última sexta-feira (25/6), os irmãos revelaram que outro servidor da pasta informou que gestores do ministério estariam cobrando propina para aceitar vacinas a serem adquiridas pelo governo federal.

Luis Miranda também confessou que é de Ricardo Barros (PP-PR) a culpa pelo "rolo" em relação ao contrato para a importação da Covaxin. Segundo Miranda, foi o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), quem atribuiu ao líder do governo na Câmara a responsabilidade.

 

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