Depois de faltar ao seu depoimento na CPI da Covid, o empresário bilionário Carlos Wizard pode ser alvo de uma condução coercitiva por parte da Polícia Federal (PF).
Wizard havia sido convocado para falar na quinta-feira (17/6), mas não compareceu porque está nos Estados Unidos acompanhando o tratamento de saúde de um familiar, de acordo com seus advogados.
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O presidente da CPI, o senador Omar Aziz (PSD-AM), pediu então à Justiça para que ele fosse obrigado a comparecer e que seu passaporte fosse retido.
A PF o teria procurado na sexta-feira (18/6) em sua casa em Campinas, no interior de São Paulo, de acordo com os portais UOL e G1.
O empresário teria viajado para o México em 30 de março e desde então não teria mais retornado ao país. A Justiça Federal autorizou que seu passaporte seja retido quando ele voltar.
O empresário pediu à CPI para que fosse ouvido remotamente, mas essa possibilidade foi rejeitada porque, na avaliação de Aziz, isso prejudicaria as investigações.
Wizard havia sido originalmente convocado como testemunha e, agora, é oficialmente investigado pela comissão, junto com outras 13 pessoas.
Ele teve seu sigilo telefônico e bancário quebrados pela CPI, mas seus advogados tentam pela segunda vez reverter essa medida no Supremo Tribunal Federal. O primeiro pedido foi negado pela ministra Rosa Weber.
A Corte havia concedido na quarta-feira (16/6) a Wizard um habeas corpus para que ele pudesse ficar em silêncio e não se incriminasse diante dos senadores.
Mas o depoimento não ocorreu porque, de acordo com sua defesa, não houve tempo hábil para que o bilionário providenciasse seu retorno ao país após a decisão do STF.
Por que Wizard é investigado?
Carlos Wizard é investigado por seu suposto envolvimento no "gabinete paralelo" que teria aconselhado o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no combate à pandemia.
A médica Nise Yamaguchi admitiu à CPI ter participado de um "conselho científico independente" com o empresário.
Ele também foi citado pelo ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que confirmou em seu depoimento ter sido aconselhado pelo empresário e que chegou a oferecer um cargo a ele na sua pasta.
Wizard já teria declarado em uma entrevista à TV Brasil ter passado um mês em Brasília no ano passado como conselheiro do então ministro e sido convidado por ele para assumir uma secretaria.
O empresário preferiu não aceitar o cargo para seguir atuando de forma independente junto ao governo federal, que tinha um conselho paralelo ao Ministério da Saúde sobre as ações de combate à pandemia, segundo o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS).
"Foi neste momento que eu tive, então, a oportunidade de conhecer autoridades médicas que são reconhecidas tanto no Brasil quanto no exterior, como a doutora Nise Yamaguchi, doutor Roberto Zeballos, doutor Anthony Wong, Dante Serra, e muitos outros que participam desse conselho científico independente", disse Wizard.
"Ou seja, são voluntários que estão dedicados, dedicando seu tempo, sua habilidade, sua experiência, compartilhando com a população o tratamento precoce."
Em seu depoimento à CPI, Pazuello afirmou que foi ele quem convidou Wizard a contribuir.
O general afirmou que conheceu o empresário em 2018, durante a operação realizada em Boa Vista, em Roraima, para receber o grande número de imigrantes venezuelanos que chegavam ao Brasil fugindo da crise em seu país.
Pazuello coordenou estes esforços em Roraima. Wizard e sua mulher, que são mórmons, atuaram por dois anos em atividades sociais para acolher os venezuelanos no Estado. O empresário e o ex-ministro se tornaram amigos por causa disso.
"Quando fui chamado pra cá, o puxei, e pedi ajuda por ele ser um grande link entre o Ministério da Saúde e a compreensão da parte social, do público", disse Pazuello na CPI.
Por causa de suas empresas, Wizard não aceitou o convite para ser secretário, de acordo com o ex-ministro.
Pazuello disse que Wizard propôs reunir médicos em um conselho para ajudar o ministério. O ex-ministro disse, no entanto, que fez apenas uma "meia reunião" e que isso foi suficiente para "não aceitar" a proposta.
"Na primeira vez que sentei para ouvir as ideias dos médicos, não gostei da dinâmica da conversa. Foi uma única vez, não tive aconselhamento nem assessoramento de grupos de médicos."
Pazuello declarou ainda que nunca viu Wizard em Brasília para falar com o presidente da República.
O empresário terá agora de esclarecer qual foi seu papel junto ao governo no combate à pandemia.
Quem é Carlos Wizard
O curitibano Carlos Roberto Martins tem 64 anos e é mais conhecido por ter criado em 1987 a franquia de escolas de inglês Wizard, da qual adotou o nome.
Ele conta que teria aprendido o método de ensino usado nestas escolas na Igreja dos Santos dos Últimos Dias, da qual é seguidor.
Wizard comprou outras empresas de educação, criando o Grupo Multi, e, conforme noticiou o jornal Valor, decidiu vender o negócio para o grupo britânico Pearson, por R$ 1,95 bilhão, em 2013
Ele criou então uma gestora de investimentos, a Sforza, à frente da qual também estão dois de seus seis filhos, Charles e Lincoln. A gestora tem em seu portfólio empresas de alimentação, educação, esportes e serviços financeiros, entre outros.
Wizard prefere se apresentar hoje como um empreendedor social e faz as vezes de guru dos negócios.
É autor de livros como Desperte o milionário que há em você, Sonhos não têm limite (sua biografia), Do zero ao milhão e Meu maior empreendimento.
Ele também costuma dar lições a quem deseja ser um empreendedor de sucesso por meio de suas redes sociais.
"O impossível é só uma opinião", diz em um dos seus posts no Instagram, sua rede social mais popular, com 282 mil seguidores.
"Líderes não aguardam, líderes agem", afirma ele em outra publicação.
"Líderes focam na solução, não no problema", diz Wizard em mais um post.
Foi o que ele fez diante da pandemia, quando se tornou um dos principais defensores do uso da cloroquina e de outros medicamentos contra a covid-19, mesmo que não houvesse comprovação científica de eficácia.
Wizard disse à revista Época que o que o motivou a agir assim foi ter perdido um sobrinho para a doença e acreditar que ele poderia ter sido salvo caso tivesse recebido um suposto tratamento precoce.
O empresário também falou contra as medidas mais rígidas de isolamento social, porque teriam um impacto negativo sobre a economia e seriam pouco eficazes no combate à pandemia.
"Todos os estudos indicam que o lockdown, por si só, não reduz o número de óbitos", afirmou à revista IstoÉ em agosto do ano passado.
Sem formação na área - ele é graduado em ciência da computação e estatística por uma universidade dos Estados Unidos, onde morou -, ele se apoiava num conselho de especialistas que ele próprio havia formado.
Proximidade com o governo
Seja por essa afinidade com as opiniões do governo seja pela amizade com Pazuello, Wizard tornou-se uma figura frequente na órbita do governo Bolsonaro.
Exibe nas redes sociais fotos com os principais nomes do primeiro escalão do Planalto, como o vice-presidente Hamilton Mourão, os ministros Paulo Guedes, Damares Alves e André Mendonça, além da primeira dama Michele e do próprio presidente.
Apesar disso, costuma dizer que não é político nem tem pretensões políticas.
Nos últimos tempos, o empresário se empenha em uma campanha, junto com Luciano Hang, dono da rede Havan e um dos aliados de primeira hora de Bolsonaro.
Wizard se refere a Hang como seu amigo e diz que eles têm trabalhado juntos para aprovar no Congresso Nacional uma lei que permita a empresas comprar vacinas.
O texto já foi aprovado na Câmara e está desde o início de abril no Senado. A demora na sua apreciação já rendeu críticas de Wizard aos senadores.
"Enquanto o Senado não aprova a doação de vacinas aos trabalhadores pelos empresários, o prefeito de Nova York oferece vacinas gratuitas aos brasileiros. Em sua opinião, qual é razão do Senado aprovar a CPI da Covid e desaprovar a doação de vacinas aos trabalhadores? Qual será a real motivação?", perguntou o empresário em uma rede social.
Wizard terá em breve a chance de tirar essa dúvida pessoalmente.
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