CPI da Covid

Para se defender, Witzel ataca governo federal na CPI da Covid

Ex-governador do Rio de Janeiro afirmou, em depoimento nesta quarta-feira (16/6) que o governo Bolsonaro tenta fragilizar os governadores e que se recusou a liderar a pandemia com o intuito de responsabilizar os chefes de Executivo estaduais pelos impactos financeiros da crise sanitária

Luiz Calcagno
postado em 16/06/2021 12:29 / atualizado em 16/06/2021 12:31
 (crédito: Marcos Oliveira/Agência Senado)
(crédito: Marcos Oliveira/Agência Senado)

O ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, usou do tempo inicial na Comissão Parlamentar de Inquérito da covid-19, nesta quarta-feira (16/6), para denunciar o ataque do governo federal a governadores no combate à pandemia. O depoente destacou que houve uma ação coordenada do Executivo e de deputados bolsonaristas federais e estaduais para prejudicar as ações de mandatários locais. “Tivemos duas reuniões com o presidente em que se percebeu a politização da pandemia. O governador (João) Doria foi frontalmente atacado. É preciso não olhar para uma cidade ou estado (no combate à pandemia). A questão é nacional”, disse.

Witzel pediu que a comissão requisite as cartas de chefes de Executivo estaduais que comprovariam a postura de Jair Bolsonaro de se recusar a liderar o combate à pandemia. “Nós, governadores, buscamos tomar as medidas de combate desde o início das pandemias”, lembrou. Ele destacou que o Fórum de Governadores solicitou diversas reuniões com o presidente da República, mas que, em sua maioria, não foram respondidos. Disse, também, que os estados ficaram à mercê da flutuação de preços para a compra de respiradores e outros insumos de saúde, pois o governo não determinou ao Itamaraty a negociação de compra com outros países.

Depois, segundo Witzel, os governadores começaram a ser acusados de compras superfaturadas de equipamentos de saúde para o combate à covid-19. “É uma negociação internacional que não foi feita”, acusou. “O governo federal criou uma narrativa. Os governos estaduais ficariam em situação de fragilidade por não poder comprar seus respiradores. A narrativa foi para colocar os governadores em fragilidade por conta dos decretos de isolamento social. Por conta de consequências econômicas desses decretos”, explicou.

“E eu quero lembrar os senhores e as senhoras que, no dia 13 de março de 2020, eu fui o primeiro governador a decretar o isolamento social, de forma contundente, a fim de que nós pudéssemos controlar a pandemia no Rio de Janeiro, que é um dos estados brasileiros que têm o maior índice de contaminação nas comunidades, em razão das deficiências dos habitantes daquelas regiões. Nós temos o maior índice de tuberculose registrado. E o índice de tuberculose nas comunidades, Senador Randolfe, é maior do que em países da África”, explicou.

"Comício"

Nesse momento, o governador afirmou que Bolsonaro deveria ser julgado no “Tribunal Penal Internacional”. “O presidente deixou os governadores à mercê da desgraça que viria. O único responsável pelos 450 mil mortos que estão aí tem nome, endereço e tem que ser responsabilizado, aqui, no Tribunal Penal Internacional, pelos fatos que praticou”, disse.

O senador governista Jorginho Mello interrompeu o depoente e questionou se ele veio “para fazer comício”. O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), pediu que assegurassem a palavra de Witzel e depois o questionassem. “Estou aqui para falar a verdade. Vossa excelência pode me indagar. Fui cassado em um mandato com 4,6 milhões de votos em um tribunal de exceção, que foi totalmente parcial. Senador Jorginho, olha a ementa que o governo supostamente praticou isso ou aquilo. As provas periciais foram indeferidas. Isso é uma vergonha para o Brasil”, defendeu-se.

Witzel também afirmou que as investigações no Rio pararam assim que ele foi cassado, e mesmo as Organizações Sociais de Saúde continuaram a funcionar. “Por trás do meu impeachment estão os que se aliaram ao discurso de perseguição aos governadores. Eu só fui o primeiro. Outros foram atingidos por investigações superficiais e rasas. Não podemos permitir isso. O Senado tem que acabar com essa farsa de perseguição aos governadores”, pediu.

 

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