O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, defendeu a realização da Copa América no Brasil nesta terça-feira (8/6) em resposta a questionamentos do senador Renan Calheiros (MDB-AL). O médico fala pela segunda vez à Comissão Parlamentar de Inquérito da covid-19. Mais incisivo do que na primeira vez que foi ao colegiado, o ministro disse aos parlamentares que “a prática de esportes é liberada no Brasil”. Ele usou como exemplo outros campeonatos futebolísticos e afirmou, ainda, que “não há provas de que essa prática aumenta o nível de contaminação dos atletas”.
Em novembro de 2020, clubes da Série A enfrentaram dificuldades na escalação de jogadores justamente por conta da infecção por covid-19. Foram mais de 300 contaminados. Senadores lembraram ao ministro de que não haverá exigência de vacinação dos atletas na Copa América, que trará delegações do exterior com esportistas e equipe técnica das respectivas seleções participantes. “O campeonato brasileiro aconteceu com mais de 100 partidas, sem público nos estádios, e houve apenas um caso positivo com paciente hospitalizado”, disse o ministro.
“Estão acontecendo a Libertadores, as eliminatórias da Copa, a Sul-Americana, campeonato Panamericano no Rio. O esporte está liberado no Brasil. Os exames exigidos ocorrem normalmente, independentemente de futebol. Qualquer um entra com o exame, os transportes nos ônibus ocorrem de maneira controlada, com EPI (equipamento de proteção individual), vão para o hotel, ficam isolados nos quartos. Eu pedi para a diretora do Departamento de Ciência e Tecnologia para fazer uma revisão sistemática, e não consta que essa pratica aumente a circulação do vírus, podendo colocar em risco a vida dos jogadores ou da comissão técnica”, garantiu Queiroga.
Ele disse que o presidente da República, Jair Bolsonaro, pediu para o Ministério da Saúde avaliar os protocolos da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), e que governadores também aceitaram realizar os jogos. “Brasília, Goiás, Mato Grosso e Rio de Janeiro estão de acordo com esse tipo de atividade, e a fiscalização se dará pelas autoridades sanitárias dos municípios. Não vejo, do ponto de vista epidemiológico, uma justificativa para não se fazer o evento”, defendeu, afirmando que pode apresentar a fundamentação da avaliação da pasta.
Relator da CPI, Renan Calheiros perguntou se há risco para as delegações, população e de sobrecarga no SUS. “Todos os atletas têm seguro. Se houver sinistro vão usar o sistema privado, e membro da comissão técnica (também). Não tendo público, não tem risco de aglomerações e contaminação maior. E o risco que a pessoa tem de contrair a covid é o mesmo, com o jogo ou sem o jogo. Não estou assegurando que não há risco. Estou dizendo que não há risco adicional. A Copa América tem 625 envolvidos. Não é muita gente”, emendou.
2 mil credenciamentos
Calheiros lembrou ao ministro que a imprensa também trabalhará no campeonato e que existe solicitação de pelo menos 2 mil credenciamentos. O vice-presidente do colegiado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), destacou os casos de contaminação entre atletas por covid no campeonato brasileiro de 2020. Queiroga minimizou a gravidade das ocorrências. “As pessoas estão vivendo e podem adquirir a covid. A gente está falando na questão em campo. E eles vão ficar em bolha, vão ficar no hotel”, disse.
O senador governista Rogério Carvalho (DEM-RO) interrompeu e disse que os atletas estarão vacinados. Mas Calheiros discordou e lembrou que a vacina não será obrigatória e, portanto, não se deve considerar que os visitantes estarão vacinados. “Se tivesse exigência, não teria como acontecer os campeonatos”, lembrou. O senador voltou-se novamente para Queiroga e lembrou que a Copa América foi rejeitada por outros países antes de Jair Bolsonaro aceitar a realização do campeonato no Brasil.
“A Copa América é um evento pequeno, com número pequeno de pessoas, não é uma olimpíada. Os protocolos apresentados pelo Ministério da Saúde são seguros e, se for seguido, não teremos riscos adicionais aos jogadores. Essa é a opinião do Ministério da Saúde nesse momento”, respondeu.
Posteriormente, o senador Humberto Costa (PT-PE) contradisse o ministro sobre o tema. Disse que o Ministério da Saúde deve tratar da saúde pública como um todo, e lembrou que um massagista morreu no campeonato brasileiro, contaminado por covid. Também destacou que argumentar que os jogadores usariam hospitais privados é uma tese temerária. “É uma questão gravíssima, séria para a saúde pública, e o Ministério da Saúde não teve o poder de aceitar ou vetar”, afirmou.
Autonomia
Queiroga disse que a decisão não competiria ao Ministério da Saúde, mas o petista não aceitou. Lembrou que o país está no meio da pandemia e que o presidente não ouve o ministro que, portanto, não tem autonomia. “Vejo pela irritação de algumas falas de vossa excelência, não se irrite conosco, sinto que vossa excelência não está em uma posição cômoda”, provocou o parlamentar, que disse que o ministro está abandonado no colegiado.
“Se o presidente dissesse que a decisão é sua, ministro, tenho certeza de que não faria (a Copa América). A posição de vossa excelência é incômoda. Eu acho que vossa excelência está saindo. Eu acho. Eu torço que não. Mas não há possibilidade de alguém que queira fazer um trabalho sério nesse país ficar no governo. É o mesmo problema que teve a doutora Luana (Araújo)”, insistiu o parlamentar.
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