O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, mudou a versão sobre a não nomeação da médica Luana Araújo na pasta após ter sido anunciada como secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid-19. Em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, no Senado, nesta terça-feira (8/6), o médico afirmou que a nomeação da infectologista foi vetada por ele, que entendeu que, apesar de qualificada, ela não traria harmonia entre a classe médica dentro do ministério.
No último dia 26, entretanto, na Comissão de Fiscalização e de Defesa do Consumidor, na Câmara dos Deputados, ele disse diferente: “É uma pessoa qualificada, que tem condições técnicas para exercer qualquer função pública. Ela não chegou a ser nomeada. Nós encaminhamos o nome dela para as instâncias do governo. Nós vivemos num regime presidencialista. Eu fui indicado por quem? Pelo presidente da República. É necessário que exista validação técnica e também política. Para todos os cargos”.
Luana foi indicada pelo ministro, mas 10 dias depois teve a sua saída anunciada, apesar de extenso currículo, com graduação na Universidade Federal do Rio de Janeiro e mestrado na renomada Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. Em oitiva na última semana, como convidada, a infectologista disse à CPI que foi informada pelo próprio ministro que a sua nomeação não sairia, mas que não foi informada sobre o motivo. Além disso, ela afirmou que houve pesar por parte do ministro.
"Quando eu entrei no gabinete, ele (Queiroga) falou que tinha optado pela minha nomeação e que ele, obviamente, não duvidava da minha capacidade técnica, muito pelo contrário. Disse que eu tinha sido de muita utilidade naquele momento todo, mas que, infelizmente, a minha nomeação não teria sido aprovada, e que ele, lamentavelmente, ia precisar abrir mão de mim", informou.
Nesta terça-feira, Queiroga puxou para si a responsabilidade, apesar de já ter sugerido que a decisão foi do Palácio do Planalto. Aos senadores, afirmou que “não houve nenhum tipo de restrição na Casa Civil e na Segov (Secretaria de Governo) acerca das questões próprias que são avaliadas naquela instância”.
“Só que naquele ínterim, o nome dela começou a sofrer muitas resistências em face dos temas já tratados aqui, onde há divergência grande na classe médica, e eu entendi que naquele momento, a despeito da qualificação que ela tem, não seria importante a presença dela para contribuir na harmonização desse contexto. Então, num ato discricionário do ministro, resolvi não efetivar a sua nomeação. Ato próprio da administração pública”, disse.
Queiroga foi questionado pelos senadores, visto que na Câmara falou de "regime presidencialista", e acabou não respondendo, dizendo apenas que "não houve óbices formais na Segov e na Casa Civil. Entendi que mesmo ela sendo capacitada, não ia contribuir para harmonizar as questões que são discutidas aqui sobre tratamento inicial”, disse, referindo-se ao fato de que Luana, assim como ele, frisa que medicamentos como hidroxicloroquina são ineficazes contra covid-19, enquanto alguns médicos são favoráveis.
À CPI, Luana ainda afirmou: “Eu não sei (o motivo). Houve confusão de imprensa, eu estava trabalhando e minha nomeação não saiu”. Ao falar sobre “confusão de imprensa”, ela se refere a reportagens que mostravam a médica sustentando posições claras favoráveis à ciência, com críticas constantes ao uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra covid-19, como cloroquina, e ao tratamento precoce (que não existe contra a doença). Essas ideias são defendidas pelo presidente Jair Bolsonaro, que é contrário a medidas restritivas que evitam a circulação do vírus.
Até sexta
Ainda não foi escolhido um substituto de Luana na pasta, que foi criada recentemente. Queiroga afirmou que “não é fácil encontrar quadros que queiram assumir responsabilidade, sobretudo numa época dessa”. Questionado, o ministro disse que, hoje, ele exerce a função da secretaria. “Até sexta, devemos ter um nome”, garantiu.
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