O presidente Omar Aziz (PSD-AM) irá antecipar o depoimento de pessoas apontadas como integrantes do chamado ‘gabinete paralelo’, um suposto assessoramento paralelo que alimentaria o presidente Jair Bolsonaro com informações negacionistas no combate à pandemia de coronavírus, e de outras ligadas à gestão do Ministério da Saúde.
Neste caso, a ideia de ouvir pessoas e observar uma possível ingerência política no Ministério da Saúde, e não uma atuação técnica, como ele disse ao ser questionado sobre o motivo da antecipação do depoimento da médica Luana Araújo. “Mostrar que tem ingerência política no Ministério da Saúde, e não (atuação) técnica”, afirmou, ao ser questionado pelo Correio.
Luana foi indicada ao cargo de secretária de enfrentamento à covid-19, mas, 10 dias depois, teve a saída anunciada. A nomeação não foi aprovada pelo Palácio do Planalto. Ela será ouvida na CPI na quarta-feira (2/6). A mudança foi feita por Aziz de última hora. De acordo com ele, foi o próprio ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que trouxe informações à CPI para justificar a convocação de Luana, ao dizer que tinha autonomia para nomear quem ele quisesse. Depois disso, ele escolheu Luana, mas foi barrado pelo Palácio do Planalto.
O presidente afirmou que deve alterar a agenda mais uma vez e antecipar os depoimentos do ex-secretário-executivo da pasta Élcio Franco; Marcos Arnaud, conhecido como Marquinhos Show, que era assessor direto de Pazuello; ex-assessor especial da Presidência Arthur Weintraub, irmão do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub; o empresário Carlos Wizard e do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
No caso de Arthur, uma transmissão ao vivo de abril do ano passado, com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), é citada por senadores da oposição na CPI. No vídeo, ele disse que o presidente disse a ele: "Ô magrelo, você que é porra louca, vai lá e estudo isso daí. Aí comecei a ler artigo científico, artigo que o pessoal começa a soltar. Esses caras me mandando, o Luciano Dias Azevedo, o Paulo Zanotto me mandou também artigo, e falei pra ele [Bolsonaro]: ‘ó, cloroquina tá funcionando, já tem resultado’. Tinha os gráficos. Passei pra ele os estudos, ele lê. Eu mando no zap e depois tá impresso na mesa dele e ele lê.”
Arthur Weintraub e Carlos Wizard foram citados nesta terça-feira pela médica Nise Yamaguchi. De acordo com ela, Arthur discutiu "a possibilidade de médicos prescreverem esses medicamentos", referindo-se à cloroquina e hidroxicloroquina. Nise negou, ao longo do depoimento, a existência de um “gabinete paralelo” e disse que é uma “colaboradora eventual” deste e de outros governos. Sobre Wizard, afirmou que participa com ele de um "conselho científico independente".
Ciclo
Aziz disse que com este depoimento, encerra-se um ciclo de investigação. A próxima etapa, agora, segundo ele, é ir atrás do “gabinete do ódio, que tanto propagou o uso de cloroquina” e outras medicações sem eficácia comprovada contra a covid-19. Já houve solicitação de compartilhamento de dados do inquérito das fake news, no Supremo Tribunal Federal (STF), com a CPI.
"Encerramos um ciclo de investigação em que sabemos que o governo nunca quis comprar vacina, isso está provado, não tem mais que discutir essa questão. e está provado também que havia um assessoramento não de profissionais nomeados no Ministério da Saúde. Eram pessoas que eram chamadas, como disse Nise, que recebia uma mensagem para ter uma reunião, e foi se formatando sem nenhum dado científico um protocolo que aí vem o tratamento precoce e a imunização de rebanho, coisa que não deu certo no Brasil e ceifou a vida de muitas pessoas”, disse.
Apesar de afirmar que já está provada a existência do assessoramento paralelo, a ideia do presidente é dar prosseguimento ao que foi ouvido nesta terça no depoimento de Nise, para coletar mais elementos relativos à esse assunto.
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