CPI da Covid

CPI antecipa depoimento de médica contrária à cloroquina que ficou 10 dias no governo

Com pós-graduação pela Universidade Johns Hopkins (EUA), Luana Araújo foi anunciada como secretária de enfrentamento à covid-19, mas nomeação não foi aprovada pelo Palácio do Planalto. Mudança na pauta é criticada pela base

Sarah Teófilo
postado em 01/06/2021 10:19 / atualizado em 01/06/2021 10:19
 (crédito: Tony Winston/Ministério da Saúde)
(crédito: Tony Winston/Ministério da Saúde)

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, no Senado, antecipou o depoimento da infectologista Luana Araújo, que foi indicada ao cargo de secretária de enfrentamento à covid-19, no Ministério da Saúde, mas que 10 dias depois teve a sua saída anunciada. A nomeação não foi aprovada pelo Palácio do Planalto.

Luana será ouvida nesta quarta-feira (2/6), quando prestariam depoimento quatro médicos (dois com posicionamentos alinhados ao do Palácio em relação ao uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra covid-19 e dois contrários). O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), mudou a pauta da comissão na noite da ultima segunda-feira (31), e gerou críticas de senadores da base, que são minoria.

O senador Marcos Rogério (DEM-RO) se manifestou de forma contrária à mudança nesta terça-feira (1º), em sessão da CPI que ouve a médica Nise Yamaguchi. Aziz pediu desculpas ao convidado, e alfinetou: "A doutora Nise  já dará um show de defesa da cloroquina". Conforme o presidente, CPI deve investigar, e não fazer audiência pública para discutir uso de cloroquina, e que, por isso, avaliou ser mais importante ouvir Luana Araújo.

O presidente Jair Bolsonaro reforçou, ao longo de toda a pandemia, o uso de cloroquina em pacientes com covid-19, apesar de não ter eficácia comprovada contra a doença. O presidente é um defensor do chamado 'tratamento precoce', algo que não existe no caso da covid-19. As formas de evitar a doença são utilizando máscara de proteção e mantendo distanciamento social para evitar a disseminação do coronavírus. 

Ameaças

Luana Araújo, por sua vez, já alertou sobre problemas no combate à pandemia da covid-19 no Brasil e disse que hidroxicloroquina não funciona contra a doença. Em entrevista publicada, em fevereiro de 2021, no site da Universidade de Johns Hopkins (onde cursou um mestrado em epidemiologia), ela afirmou que já chegou a ser ameaçada de morte ao alertar sobre o fato de o medicamento amplamente sugerido pelo presidente não ter eficácia científica comprovada.

Durante a primeira aparição pública como secretária da pasta da Saúde, Luana prometeu um trabalho “pautado nas evidências científicas”. “Essa é minha vocação natural e fico feliz que ela se alinhe aos objetivos traçados para essa secretaria. Trabalho duro pautado na tecnicidade, nas evidências científicas, buscando sempre soluções eficientes e adaptadas a nossas vulnerabilidades socioeconômicas”, ressaltou durante a cerimônia do Ministério da Saúde.

Antes disso, em entrevista à Johns Hopkins, ela pontuou que “as pessoas não sabem em quem confiar”, afirmando também que isso prejudicou a resposta do sistema de saúde brasileiro.

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