Entrevista MARCOS ROGÉRIO

Um dos mais atuantes senadores na CPI da Covid, Marcos Rogério (DEM-RO) trabalha para defender o presidente Jair Bolsonaro das acusações de omissão no enfrentamento à pandemia. Mas há uma questão que nem ele consegue negar: os vídeos nos quais o chefe do Planalto diz que as vacinas CoronaVac, produzidas pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, não seriam compradas. O parlamentar admitiu que o assunto foi politizado tanto pelo mandatário quanto pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB). “Os dois erraram”, afirmou ao Correio. Na avaliação do parlamentar, até agora nada que ocorreu na comissão mostrou culpa de Bolsonaro na crise sanitária. “Provas contra o presidente não há. Se quiserem condená-lo, terão de fabricar provas.” Confira os principais trechos da entrevista.

O diretor do Butantan, Dimas Covas, disse à CPI que as negociações para compra da
CoronaVac foram suspensas em outubro, no período em que o Ministério da Saúde anunciou o contrato, mas Bolsonaro afirmou que não ia comprar a vacina. Isso mostra a interrupção
da negociação por ordem do presidente?
Por ordem do presidente, não. Ali, há uma situação clara. A situação do Butantan é diferente da das outras. Doria (João Doria, governador de São Paulo) politizou o tema da vacina do Butantan. Ele sempre quis chamar para si o protagonismo do enfrentamento da pandemia, como se fosse o arauto, o cientista-mor que tinha todas as informações em relação a esse tema. Ele politizou de maneira exacerbada.


E Bolsonaro, não?
Dá para dizer que a politização foi só do lado do Doria? Não, claro que não. Doria fez isso lá, o presidente aqui também fez, em relação ao Butantan. Não dá para negar os discursos dele (Bolsonaro). O tema da vacina do Butantan foi politizado. Doria não estava preocupado com a vacina (…), está preocupado com o protagonismo dele.

O presidente errou o politizar?
O Butantan sempre foi um patrimônio do Brasil, o governo brasileiro sempre investiu lá. Doria politizou o tema, quis chamar para si os louros, antecipando uma disputa nacional, e isso acabou contaminando o presidente nas suas retóricas, nos seus discursos. Os dois erraram. Em relação à questão da vacina chinesa, no começo, as cautelas do presidente estavam corretas, e do mundo todo.


Bolsonaro estava dizendo que não era para comprar vacina.
Não, isso aí não é fato. Falou em relação ao Butantan. Os discursos são públicos.

E isso não atrasou a compra de imunizante?
Atrasar, não atrasou, porque quando a vacina teve as certificações necessárias, o governo foi lá e comprou tudo.

Houve um intervalo de três meses sem negociação. Covas disse que em dezembro tinha 5,5 milhões
de vacinas disponíveis em solo brasileiro.


No vídeo, Covas fala que até 15 de janeiro vai ter vacina. Como tinha vacina em dezembro? Assinamos com o Butantan em 7 de janeiro. Qual atraso que houve?

O presidente dizer que não é para comprar vacina não atrapalhou?
Não acho que atrapalhou. Nós compramos todas as vacinas que estavam disponíveis. A primeira vacina aplicada no mundo foi em 8 de dezembro.

Butantan e Pfizer disseram que iam entregar imunizantes ao Brasil em dezembro.
Nenhum dos dois poderia entregar. A FDA (a Anvisa dos EUA) aprovou a Pfizer em 13 de dezembro. Eles iam entregar ao Brasil antes de lá?

A convocação de governadores vai ser palanque para 2022?
Ninguém tem que embarcar em CPI como palanque eleitoral. Isso não é plataforma de pré-campanha ou de campanha. E quem fizer isso, acho que vai errar muito e, talvez, a história política de quem fizer isso não seja tão boa. Eu não pedi a convocação do governador do meu estado, pedi informações. Mas outros senadores entenderam que era o caso de já fazer a convocação, porque o critério foi esse, onde houve operação da Polícia Federal. Eu concordei, porque acho que o critério é justo. Eu nunca disse que sou candidato a isso ou aquilo. Meu foco está 100% voltado ao Senado, à CPI, e a ajudar a garantir mais vacina e mais estrutura aos municípios.

Bolsonaro pode ser responsabilizado ao final da CPI?
Até este momento, do que foi apurado, não há nenhuma prova concreta contra o presidente da República, portanto, não acho que caiba responsabilização. A CPI ainda está caminhando, tem muita coisa pela frente. Uma coisa são as narrativas, outra são provas. Provas contra o presidente não há. Se quiserem condená-lo, terão de fabricar provas, pelo que foi apurado até agora.