O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello jogou para o colo da gestão local do Amazonas a culpa pelo colapso da saúde no estado, que culminou na interrupção de oxigênio em redes hospitalares pelo esgotamento do insumo. No entanto, durante seu segundo dia de depoimento na sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 desta quinta-feira (20/5), o general admitiu que o governo federal decidiu não entrar com uma intervenção na saúde do estado.
O senador Eduardo Braga (MDB-AM) relembrou ter enviado uma carta diretamente ao presidente da República pedindo uma intervenção federal, "diante da falta de competência e da falta de responsabilidade [do estado]. Deixou faltar oxigênio. Fecharam o hospital de campanha. E, lamentavelmente, não fui atendido". O parlamentar questionou, então, o general sobre o motivo da negativa.
"Essa decisão não era minha [...]. (O pedido) Foi levado à reunião de ministros com o presidente. E o governador (do Amazonas), presente, se explicou, apresentou suas observações. E foi decidido pela não intervenção", revelou Pazuello, não explicando, por outro lado, o que norteou a decisão.
Sobre a crise do oxigênio, o general contextualizou que a empresa White Martins, principal fornecedora do insumo ao estado, "já vinha consumindo a sua reserva estratégica e não fez essa posição de uma forma clara desde o início", disse, colocando sobre a empresa parte da responsabilidade pelo colapso. "O contraponto disso é o acompanhamento da Secretaria de Saúde, que não o fez. Se a Secretaria de Saúde tivesse acompanhado, [...] teria descoberto que medidas precisariam ser feitas imediatamente".
General se corrigiu
Braga, por outro lado, alegou que a responsabilidade não poderia ser atribuída à empresa, que estava operando quase quatro vezes acima do que estava previsto em contrato. "Se esse volume é quadruplicado, é o Poder Público que tem que tomar responsabilidade", defendeu. Pazuello, então, corrigiu a fala: "No momento em que a secretaria deixa de acompanhar o processo e de se antecipar ao processo, a responsabilidade quanto a isso é clara no sistema. É da Secretaria de Saúde do Estado do Amazonas. Ponto".
Enquanto o general negava qualquer responsabilidade do Ministério da Saúde em não se antecipar à falta de oxigênio e às decisões de fechar hospitais de campanha, por exemplo, Braga discordava. "Vossa Excelência chegou com a sua equipe a Manaus, mas não providenciou o avião para ir buscar o oxigênio na Venezuela. Não providenciou para buscar oxigênio líquido em volume e em quantidade necessária. Nem o senhor, nem a Secretaria do Governo do Estado, nem a Prefeitura, nem ninguém. E o que que aconteceu? Vidas se foram. E a razão desta CPI é porque vidas importam".