Nesta quarta-feira (19/5), a Polícia Federal desencadeou a Operação Akuanduba. O ministro do meio ambiente Ricardo Salles, o presidente do Ibama, Eduardo Bim e outros servidores da autarquia foram alvos de investigação que apura suspeitas de exportação ilegal de madeira. A operação começou a partir de denúncias realizadas por autoridades internacionais de condutas suspeitas com relação ao processo de exportação de madeira.
Cerca de 160 policiais federais cumpriram 35 mandados de busca e apreensão, no Distrito Federal e nos Estados de São Paulo e Pará. As medidas foram autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Além das buscas, o STF determinou o afastamento preventivo de 10 agentes públicos ocupantes de cargos e funções de confiança no Ibama e no Ministério do Meio Ambiente.
A operação da PF ocorre algumas semanas depois da notícia-crime enviada ao STF pelo superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva, contra Ricardo Salles e o senador Telmário Mota (PROS-RR). No documento, o delegado da PF afirma que o ministro e o senador estavam dificultando a investigação de crimes ambientais. Com a operação Akuanduba, crescem os indícios de malfeitos no Ministério do Ambiente com a exportação de madeiras.
“A exportação legal da madeira acontece a partir de documentação que comprova a origem florestal de cada unidade, demonstrando ser de uma área de manejo e não fruto de contrabando de territórios indígenas, de povos tradicionais ou unidades de conservação. Além disso, deve ser feita a fiscalização nos centros logísticos de transporte por amostragem para verificar cada lote", explica o socioambientalista Thiago Ávila.
Desmonte da legislação
Segundo ele, esse controle tem diminuído na gestão de Ricardo Salles. "Infelizmente, esses procedimentos todos têm sido flexibilizados no governo atual que atua realizando um desmonte da legislação e faz disparar todos os índices de desmatamento e venda ilegal de madeira”, critica o especialista.
Para analistas políticos, a operação da PF representa mais um desgaste para o governo Bolsonaro. “Esse é mais um elemento que vai influenciar nas eleições de 2022. A questão ambiental entrou na agenda, onde o Brasil era referência hoje se tornou pária internacional a partir da posse do governo Bolsonaro. Então, meio ambiente é uma questão delicada e importante que envolve nossas transações comerciais. Certamente, isso vai influenciar negativamente o governo”, avaliou o cientista político André César, sócio da Hold Assessoria Legislativa.
O analista afirma que a situação de Salles, pressionado há meses para sair do cargo, se complica. “Há uma pressão muito grande, não de hoje, pela mudança do comando do ministério do meio ambiente. O Ricardo Salles tem conseguido se manter. Mas, agora, talvez o custo político da manutenção dele no cargo não compense. Uma eventual troca não seria de se surpreender”, completa.
* Estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza