As senadoras integrantes da bancada feminina criticaram duramente o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, ouvido ontem na CPI da Covid. Kátia Abreu (PP/TO), com quem o ex-chanceler teve uma rixa antes de perder o cargo, afirmou que a gestão dele levou o país a um naufrágio na política internacional, servindo como uma “bússola que nos direcionou ao caos”. A líder da bancada, Simone Tebet (MDB-MS), acusou o depoente de “crime de falso testemunho e calúnia”.
Isso porque, no período que antecedeu a sua exoneração, Araújo acusou Kátia Abreu de atuar em favor dos interesses da China nas negociações de infraestrutura que envolve a tecnologia 5G. O caso segue na Justiça, mas o ex-chanceler não quis se retratar. “Eu simplesmente disse a verdade, simplesmente relatei um fato. Então, eu jamais vou me arrepender de dizer a verdade”, afirmou. A resposta foi ao senador Ângelo Coronel (PSD-BA), que havia perguntado se o depoente “não desejaria aproveitar seu depoimento para pedir desculpas à senadora (...) pelas palavras com que a acusou injustamente, levianamente”.
Tebet sugeriu prisão a Araújo, por crime de falso testemunho e calúnia na acusação de tráfico de influência por parte de Kátia Abreu. O ex-ministro destacou que o tema está judicializado e que as testemunhas falarão em juízo.
Kátia Abreu, por sua vez, criticou o depoimento do ex-chanceler. Disse que ele tem uma “memória seletiva, para não dizer uma memória leviana”, já que “não se lembra de nada que importa do que ocorreu efetivamente”. Segundo ela, Araújo faltou com a verdade ao negar que tenha atacado a China, relembrando que, na reunião ministerial de 22 de abril de 2020, ele teria proferido sérios ataques contra o principal parceiro econômico brasileiro a ponto de a “AGU (Advocacia-Geral da União) pedir encarecidamente que um pedaço fosse retirado ou vai dar um problema diplomático seríssimo”. “E adivinha de quem era esse trecho? De Vossa Senhoria, em que atacava fortemente a China”, completou.
A senadora sustentou que o artigo de Araújo, publicado em agosto de 2020 com o título de “Comunavírus”, é outro exemplo de embate aos chineses. “Isso não é ataque?”, questionou.
O ex-chanceler negou atritos com a China e chegou a dizer que as relações comerciais com o país tiveram um incremento durante sua gestão, mas Kátia Abreu rebateu, afirmando que o aumento foi adquirido “a despeito do senhor” e “graças à competência dos pesquisadores do Brasil e produtores rurais”.