CORONAVÍRUS

Depoimento hoje de Pazuello é o mais aguardado da CPI da Covid

Pazuello vai encarar, hoje, a CPI da Covid, depois de conseguir adiar o depoimento, sob alegação de que estava em quarentena, e de obter um habeas corpus no Supremo para não ser preso. A oitiva é a mais esperada do colegiado e pode atingir o Palácio do Planalto

Após conseguir adiar por quase duas semanas o depoimento à CPI da Covid, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello ficará frente a frente com senadores, em sessão marcada para as 9h. Essa é a oitiva mais aguardada desde o início dos trabalhos do colegiado, pois Pazuello comandou a pasta por maior tempo desde o começo da pandemia — 10 meses. As declarações dele são vistas como essenciais para entender as falhas que levaram ao aprofundamento da crise sanitária no país, quais foram as autoridades diretamente envolvidas e que papel teve o presidente Jair Bolsonaro.

Diferentemente de outras testemunhas, Pazuello está sob proteção de um habeas corpus admitido pelo ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), que concedeu a ele o direito de não responder a perguntas que possam incriminá-lo. O magistrado enfatizou, no entanto, que o general continuará obrigado a revelar “tudo o que souber ou tiver ciência” sobre fatos relacionados a terceiros.

Pazuello ainda é militar da ativa e, ao mesmo tempo em que pode comprometer o governo, corre o risco de impactar a credibilidade das Forças Armadas. Ele comunicou a interlocutores que pretende ir fardado ao depoimento. Dentro do Exército, porém, existe um movimento para que isso não ocorra. Integrantes da própria comissão enviaram comunicados ao comandante da Força, general Paulo Sérgio, para que o ex-ministro seja impedido de ir ao Senado vestindo os símbolos da instituição.

Ao longo da sessão, Pazuello será questionado sobre as diretrizes do Ministério da Saúde para o combate à covid-19, a recomendação do uso de medicamentos sem eficácia contra a doença, a atuação de Bolsonaro nas ações de saúde, o atraso para a aquisição de vacinas e a existência de uma assessoria paralela para tratar da pandemia, que teria a participação do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho 02 do chefe do Planalto.

O general é o último dos ministros que ocuparam a pasta na crise sanitária a depor na comissão. Apesar de figurar como testemunha no colegiado, ele é investigado num inquérito aberto pela Procuradoria-Geral da República (PGR) para avaliar as responsabilidades pela crise da falta de oxigênio em hospitais de Manaus. Pazuello esteve na cidade dias antes de as unidades entrarem em colapso e, em vez de garantir o suprimento do insumo, recomendou medicamentos como hidroxicloroquina, que em nada ajudaram a frear a tragédia — dezenas de pessoas morreram sem oxigênio.

Ontem, ele foi apontado pelo ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, em depoimento à CPI, como o principal responsável pelas decisões em relação a vacinas, insumos, protocolos médicos e negociações com nações estrangeiras, assim como consórcios de vacinas.

Nos últimos dias, Pazuello confessou a pessoas próximas que teme ser preso. Chegou a receber apoio e treinamento do Palácio do Planalto para enfrentar o colegiado. A avaliação é de que ele tem informações que podem comprometer seriamente o governo, especialmente Bolsonaro.