O ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo afirmou, nesta terça-feira (18/5), durante sabatina na CPI da Covid, que não comunicou ao presidente da República sobre carta da Pfizer alertando para a urgência de fechamento de contrato de vacinas. A embaixada brasileira em Washington enviou ofício ao ex-chanceler, redobrando a necessidade de atenção ao tema, mas o alerta não foi repassado a Jair Bolsonaro, pois Araújo "presumia que o presidente já sabia", como justificou.
A carta da Pfizer foi enviada em 12 de setembro e o alerta da embaixada brasileira em Washington chegou três dias depois. Uma comunicação sobre esse ofício não chegou diretamente ao chefe do Executivo, porque o telegrama informava que a carta havia sido dirigida diretamente ao presidente, ao chefe da Casa Civil, ao ministro da Economia e ao ministro da Saúde", completou o ex-chanceler.
Responsável por trazer o questionamento à oitiva, o senador Rodrigo Randolfe (Rede/AP) interpretou como omissão o fato do ex-ministro achar "por bem não falar com o presidente sobre a carta da Pfizer ou sobre as negociações da vacina". "Celeridade e urgência. Era isso que a Pfizer pedia ao governo brasileiro", disse.
Covax
Durante o espaço de fala, o senador da oposição também voltou a questionar sobre o fato de o governo federal não ter optado pelo acordo de oferta de vacina a 50% da população, por meio do consórcio Covax Facility, e sobre a demora em fechar o contrato. "Ao seu ver, o Brasil aderiu no prazo certo?", questionou.
O acordo foi firmado em 24 de setembro, aderindo à oferta de vacina a 10% dos brasileiros. "170 países do globo já tinham aderido ao consórcio internacional. O mundo, salvo engano, tem 196 nações independentes. Isso é mais de 80% das nações do globo que já tinham aderido ao consórcio", sustentou Randolfe.
O ex-ministro afirmou que no período entre a oferta e a assinatura "não é que não se fez nada, houve todo um processo, sobretudo em Genebra, de entendimento de qual seria o conteúdo e as cláusulas do contrato de adesão". Ele alegou, ainda, que, mesmo se a maioria dos países já tivesse firmado o contrato, isso não interferiria no início da entrega de vacinas, que ocorreria concomitantemente com outros países.
Sobre o Brasil não ter aderido à proposta que abarcaria uma maior porcentagem da população, Araújo reforçou, como fez em resposta a outros senadores, que a decisão foi do Ministério da Saúde. Ao responder se o Brasil deveria estar recebendo proporcionalmente mais vacinas, caso tivesse optado pela maior oferta, o ex-chanceler disse que "pode ser", mas que o fato é que a Covax "está tendo dificuldade para entrega de vacinas" no mundo inteiro, independente da opção de contrato.