Líderes indígenas afirmam que duas crianças Yanomami, de 1 e 5 anos, foram encontradas mortas após o conflito armado entre garimpeiros e indígenas na comunidade Palimiú, na Terra Indígena Yanomami. O relato dos óbitos foi divulgado por Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara, principal associação do povo, na tarde de sábado, em Boa Vista, após o comunicado ao Ministério Público Federal. O clima tenso vivido na Terra Indígena Yanomami no estado de Roraima fez com que a Justiça Federal determinasse, na última sexta-feira, que a União mantenha efetivo armado, de forma permanente, para evitar novos conflitos e garantir a segurança de seus integrantes.
A Polícia Federal informou que uma equipe de policiais está no local cumprindo a decisão, junto a integrantes do Exército e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A Funai disse que acompanha, junto às autoridades policiais, a apuração de conflito e que também presta apoio às forças de segurança no local para evitar conflitos, mantendo diálogo permanente com a comunidade. “Cumpre ressaltar que o órgão vem mantendo equipes de forma ininterrupta na Terra Indígena, por meio de suas Bases de Proteção Etnoambiental (Bapes)”, diz a nota.
O pedido foi feito pelo Ministério Público na última quarta-feira, na Ação Civil Pública ajuizada no ano passado, na qual pediu a total desintrusão de garimpeiros na região. Segundo o MPF, o objetivo é zelar pela segurança da população local e defender possíveis novos ataques por parte de garimpeiros. A decisão e os autos do processo estão sob sigilo. Na decisão, expedida na quinta-feira pela Justiça, foi estabelecido prazo de 24 horas para que a União informasse e comprovasse nos autos o envio de tropa para a comunidade, sob pena de multa. Também foi determinada à Fundação Nacional do Índio (Funai) que auxiliasse as forças de segurança no contato com os indígenas e no gerenciamento das relações interculturais.
Histórico
A comunidade Palimiú, localizada no território Yanomami em Roraima, foi alvo de ataque de garimpeiros com armas de fogo na segunda-feira passada. De acordo com informações da Associação Yanomami Hutukara, ao menos cinco pessoas ficaram feridas, sendo quatro garimpeiros e um indígena.
Um relatório assinado por Elayne Rodrigues Maciel, coordenadora da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Ye'kuana da Funai, aponta que os indígenas revidaram o ataque e que “não foi possível colher maiores informações sobre o fato, contudo é possível afirmar que este não foi o primeiro conflito naquela região e os indígenas temem novos ataques”.
A Hutukara denunciou que esse é o terceiro ataque em 2021. Na região de Palimiú, as lideranças indígenas já haviam denunciado em abril outro tiroteio por parte de garimpeiros, após a interceptação pelos indígenas de uma carga de quase 990 litros de combustível. Em fevereiro de 2021, a associação chegou a denunciar um conflito na aldeia Helepi, também na região do Rio Uraricoera, envolvendo grupos de garimpeiros armados.
Policiais federais também foram alvo de disparos no local, na terça-feira, quando estiveram na comunidade para apurar o ataque dos garimpeiros. No momento em que a equipe estava prestes a embarcar de volta a Boa Vista, uma embarcação de garimpeiros passou no Rio Uraricoera efetuando os disparos. A equipe se abrigou e respondeu a agressão. Não houve registro de atingidos de nenhum dos lados.