O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, comentou, durante depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, uma declaração do ex-ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello. Quando chefiava a pasta, um dia depois de Jair Bolsonaro cancelar o protocolo de compra da vacina CoronaVac, em 22 de outubro de 2020, o militar tomou a defesa do chefe do Executivo, e disse que “um manda e o outro obedece”.
O vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) questionou se Barra Torres concordava com esse tipo de afirmação vindo de autoridades federais da Saúde. O gestor afirmou discordar e se pautar pela ciência, que nada tem a ver com hierarquia. “De maneira nenhuma. Qualquer ação de saúde é pautada por ciência. A questão hierárquica é outra questão. Não tenho nada a ver com isso. Não é a minha filosofia”, afirmou. O parlamentar fez uma série de questionamentos a respeito de possíveis intromissões do governo na Anvisa.
Mais cedo, Barra Torres já tinha dito que a Anvisa é uma agência de Estado, e não de governo. Randolfe também perguntou se Bolsonaro chegou a telefonar para a Anvisa para falar sobre o registro da CoronaVac. Barra Torres negou. “Não. No meio militar, de onde eu venho, uma das coisas que mais é ruim e causa irritação nos demais é o cidadão que quer ser alguma coisa que ele não é. Começa a frequentar outros círculos, emitir conceitos”, disse.
Barra Torres reforçou, também, que só aconselhou o presidente sobre assuntos reguladores de sua alçada. “Sempre me posicionei na minha área de atuação. É muito rica, muito nobre, e me realizo muito na Anvisa. Não tenho desejo, almejo nenhum lugar a não ser onde estou agora. Vossa excelência esteve na Anvisa com João Doria e colocou a mim que essa é a missão da minha vida. Encaro exatamente assim”, disse.
Gabinete paralelo
Em seguida, o gestor falou sobre o risco de Bolsonaro ser aconselhado por outras pessoas que não as autoridades oficiais nomeadas pelo próprio Executivo. Uma das suspeitas de senadores da CPI é que Bolsonaro tenha um gabinete paralelo para tratar da pandemia de forma extraoficial. “O assessor do presidente para assuntos de saúde é o ministro da Saúde. E nada pior para quem é de fato assessor ter outras pessoas orbitando dando opiniões que nem sempre são as mesmas. Isso só aumenta o grau confusional e leva a problemas administrativos sérios. Não é do meu feitio. Não fiz, não faço. Farei toda vez que me for perguntado, sobre assuntos da agência”, afirmou.