Na contramão ao que divulga o presidente da República, Jair Bolsonaro, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou, durante depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, nesta quinta-feira (6/5), que o tratamento precoce da doença não é tema decisivo para o enfrentamento da pandemia. A opinião diverge também do que era proposto na gestão do antecessor de Queiroga, general Eduardo Pazuello.
“Essa questão do tratamento precoce não é decisiva no enfrentamento à pandemia. O que é decisivo é justamente a vacinação e as medidas não farmacológicas”, disse o ministro em uma das respostas dadas aos senadores na CPI da Covid. Queiroga indicou que existem posicionamentos contrários e favoráveis em relação ao tratamento precoce da doença feito com determinados fármacos, como a cloroquina, e que o objetivo é “pacificar” a situação em relação ao tema.
“O que nós queremos fazer é trazer todos esses especialistas, juntamente com os técnicos do Ministério da Saúde, e pacificarmos essa situação de uma vez por todas. Há um agrupamento de colegas que defendem fortemente esse chamado tratamento precoce com esses fármacos e há outros colegas que se posicionam contrariamente. O Ministério da Saúde quer acolher todos para que cheguemos a um consenso”, disse.
Ao contrário de Queiroga, que não enxerga o tema do tratamento precoce como decisivo, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello defendeu fortemente durante o tempo que esteve no comando da pasta da Saúde a adoção do tratamento precoce.
Orientação na gestão Pazuello
Em 20 de maio, quando o general ocupava o cargo de ministro interino, o Ministério da Saúde publicou orientações para tratamento medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico da covid-19 com cloroquina, hidroxicloroquina e azitromicina. Segundo o próprio documento da pasta, as orientações foram publicadas “com o objetivo de ampliar o acesso dos pacientes a tratamento medicamentoso no âmbito do SUS (Sistema Único de Saúde)”.
Apesar de ter sido publicado durante a gestão interina de Pazuello, o documento não foi assinado pelo general. Os titulares de sete secretarias dos órgãos deram aval ao documento, que havia sido divulgado anteriormente sem nenhuma assinatura.
Revogação de orientação
Questionado sobre o porquê de ainda não ter revogado o protocolo que incluiu a cloroquina como medicação indicada pela pasta no tratamento de pacientes com covid-19, Queiroga disse que ainda não o fez porque “não há protocolo”, mas, sim, uma orientação feita em 2020.
O ministro, no entanto, disse que irá substituir essa orientação por um protocolo clínico, mas ressaltou que esse processo não é “tão simples assim”. “O protocolo clínico e a diretriz terapêutica serão elaborados pela Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS), conforme preconiza a lei. Não há pressão nenhuma. Essa é uma questão, uma matéria de natureza técnica”, completou.