O sábado foi marcado por protestos contra o presidente Jair Bolsonaro. Os atos ocorreram em 180 cidades do Brasil e do exterior. Com cartazes nas mãos e gritando palavras de ordem, os manifestantes pediam a saída do chefe do Executivo, mais agilidade na vacinação e o retorno do auxílio emergencial de R$ 600.
No Recife, embora a passeata ocorresse de maneira pacífica, os participantes foram surpreendidos com gás lacrimogêneo e balas de borracha, disparadas pela Polícia Militar na tentativa de dispersar o grupo. Os ataques foram registrados em dois pontos da capital pernambucana. Em um deles, a vereadora Liana Cirne (PT-PE) foi atingida com spray de pimenta. O morador Daniel Campelo, de 51 anos, foi atingido no olho por uma bala de borracha disparada pela polícia.
Levado ao Hospital da Restauração, principal emergência da capital, os médicos constataram uma lesão grave. Ele foi transferido para a Fundação Autino Ventura, onde a equipe médica identificou a perda da visão do olho esquerdo. Os médicos não descartam a necessidade de retirada do globo ocular. Daniel não participava da manifestação. Tinha ido ao centro comprar materiais para adesivar objetos.
Pelas redes sociais, o governador do estado, Paulo Câmara (PSB), manifestou repúdio a qualquer forma de violência. “Sempre pratiquei, na minha condição de governador de Pernambuco, os mesmos princípios que defendo como cidadão e democrata. Repudiamos todo ato de violência, de qualquer ordem ou origem", disse.
Segundo Câmara, a Corregedoria da Secretaria de Defesa Social instaurou procedimento para investigar os fatos e afastou o comandante da operação e os policiais envolvidos na agressão contra a vereadora. “Sempre vamos defender o amplo diálogo, o entendimento e o fortalecimento de nossas instituições dentro da melhor tradição democrática de Pernambuco", concluiu.
A Câmara Municipal do Recife e a seccional da Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco emitiram nota de repúdio e cobraram rigor na apuração dos casos.
Brasília
Em Brasília, os manifestantes partiram de dois pontos da capital. Uma carreta deixou o Palácio do Buriti em direção à Esplanada dos Ministérios. Outro grupo, a pé, se concentrou em frente ao Museu Nacional. Com cartazes na mão e pedindo a saída do presidente, caminharam até o Congresso Nacional.
As mais de 460 mil mortes registradas por covid-19 no Brasil, o elevado índice de desemprego, a defesa da educação pública, a falta de investimento nas universidades públicas, a aceleração da vacinação contra a covid, o retorno do auxílio emergencial de R$ 600, a luta antirracista, o combate à violência policial e o ataque às privatizações foram algumas das pautas reivindicadas.
O casal Carla Soares, 28 anos, historiadora, e Rafael Barbosa, 29 anos, servidor público, compareceram ao ato e notaram a pluralidade de assuntos levantados durante a caminhada. “Uma coisa interessante do movimento de hoje é que notamos uma junção de pautas ao redor de um objetivo principal, que é a defesa da democracia”, contou Rafael.
No canteiro central da Esplanada, fitas de contenção foram estendidas na tentativa de que o público respeitasse o distanciamento social. Durante a manifestação, foi pedido um momento de silêncio e para que os participantes levantassem a mão esquerda em sinal de protesto e luto pelas vidas perdidas desde o início da pandemia.
Apesar das preocupações das frentes de oposição ao governo Bolsonaro em realizar uma manifestação em meio à pandemia, o consenso divulgado pelos apoiadores dos atos foi o de entenderam que o descontrole do vírus e os índices de desemprego e fome exigem a realização de protestos. Durante o trajeto, líderes e participantes reforçaram os pedidos para que as pessoas seguissem as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), com o uso de máscaras PFF2 (considerada a mais segura por especialistas), álcool gel e mantivessem o distanciamento social.
Várias famílias marcaram presença no ato. O casal Jonas Bertucci, 41 anos, e Renata Santos, 37 anos, levaram seus dois filhos para a manifestação. Yuri Bertucci, 2 anos, estava na garupa da bicicleta da mãe e Nino Bertucci, 4 anos, acompanhava o pai. “Já tem dois anos que o país está em uma situação inaceitável. Eu e minha esposa chegamos ao consenso de que é mais perigoso ficar em casa do que não fazer nada. Eu cresci com meus pais me levando para manifestações, e agora levo os meus filhos. Acho importante que eles nos acompanhem e, desde cedo, comecem a ter noção de cidadania”, afirmou Jonas.
Nos estados
Em São Paulo, os manifestantes se concentraram em frente ao Museu Artístico (MASP) e ocuparam todas as faixas da Avenida Paulista. Os integrantes do protesto se estenderam por dez quarteirões e carregaram faixas e bonecos gigantes. Nenhuma ocorrência de destaque foi registrada pela Polícia. Também ocorreram marchas por outras ruas e avenidas no centro da cidade. No Rio de Janeiro, as concentrações tiveram origem no centro e percorreram as principais avenidas da capital fluminense. Os manifestantes carregavam cartazes e um boneco do presidente. As principais ruas de Belém (PA) também foram tomadas por manifestantes que pediam o impeachment do presidente Bolsonaro e mais vacinas.
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