A médica e secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do ministério, Mayra Pinheiro, mais conhecida como "Capitã Cloroquina", desmentiu o ex-ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello. Segundo ela, não ocorreu o suposto hackeamento do aplicativo TratCov, do governo federal, como alegado pelo ex-ministro da pasta. O programa recomendava o uso de cloroquina para tratamento precoce do novo coronavírus inclusive para crianças. O medicamento, porém, não tem eficácia comprovada contra a doença.
A médica, que depõe na Comissão Parlamentar de Inquérito da covid-19, nesta terça-feira (25/5), também entrou em contradição ao falar sobre o programa. Segundo o militar do Exército, em depoimento na semana passada, o aplicativo teria sido copiado e colocado no ar de forma indevida. Porém, a secretária do Ministério da Saúde apresentou outras duas versões que nada têm a ver com o relato de Pazuello. Primeiro, acusou um jornalista de ter feito uma “extração indevida de dados”. Depois, confirmou que não houve nenhum roubo de dados, mas que o profissional, que teve o nome exposto teria apenas executado “simulações indevidas”.
Era possível fazer as simulações justamente porque o programa estava disponível à população após lançamento oficial pelo governo. Outros profissionais de imprensa também testaram o aplicativo já aberto, e fizeram simulações, constatando as recomendações do aplicativo que primavam pelo uso da cloroquina. Mayra chegou a admitir que o sistema “era seguro”. Após a fala, o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), foi irônico com a convocada, questionando a retirada do aplicativo do ar.
“A senhora sabe quantas vidas se perderam? Não houve hackeamento nenhum. Não houve absolutamente nada. Vamos trazer os técnicos que fizeram o aplicativo. A senhora disse que não houve nenhuma mudança no protocolo. Por que retiraram do ar? Se tem tanta certeza que ia salvar vidas, por que não devolveram e salvaram vidas que foram perdidas no Amazonas? Aqui, tem gente que no dia 26, quando foi feito lockdown em Manaus, saíram metralhando a decisão. E 15 dias depois, esses assassinos da internet mataram pessoas sem oxigênio na minha cidade. Se o aplicativo salva vida, por que não devolveram?”, pressionou.
O uso
A secretária do Ministério da Saúde afirmou que o aplicativo “é uma espécie de calculadora médica”. “Uma ferramenta diagnóstica. E existem mais de 300 ferramentas médicas de diagnostico por dispositivos eletrônicos pela internet”, exemplificou. O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), questionou o que foi feito após o suposto hackeamento. “Todas as medidas legais. Foi feito boletim de ocorrência, uma comunicação pela Secretaria executiva à Polícia Federal, e uma perícia forense pelo presidente da associação nacional dos peritos forenses em informática”, relatou Mayra.
Calheiros perguntou, pouco depois, que alterações o suposto hacker teria feito ao programa. Foi quando a história apresentada pelo ex-ministro e pela secretária perdeu a sustentação. “Não sou técnica. A primeira ideia que fazemos é de invadir. Ele não conseguiu hackear. O sistema é seguro. Hackear é quando você usa a senha de alguém. Foi uma extração indevida de dados. Não é hackeamento o termo. Temos um laudo pericial que classifica a operação como extração indevida de dados”, argumentou. “O sistema era seguro. Ele fez simulações indevidas, fora de contexto epidemiológico”, se contradisse em seguida.
Insatisfeito, o relator questionou o motivo de retirada do ar do programa, já que não houve alteração e a defesa da inquirida é de que o programa seria importante no combate à doença. “Para investigação”, respondeu Mayra. “Não houve alteração e nada justificaria a retirada do ar. A informação que Pazuello passou, outra mentira, é de que haveria uma deturpação”, lembrou o relator.
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