O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, comentou, em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito da covid-19, na manhã desta quarta-feira (19/5), os desmandos do presidente da República, Jair Bolsonaro, a respeito das negociações para compra da vacina CoronaVac do Instituto Butantan. Bolsonaro, em postagem na internet, em outubro de 2020, desautorizou o então ministro, afirmando que não compraria o imunizante chinês. Segundo Pazuello, a fala do presidente em nada afetou as conversas com o Butantan, e teria sido “uma posição de internet” do mandatário do país.
Pazuello respondia o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), sobre sua fala com Bolsonaro, em vídeo gravado após o presidente desautorizar o ministro. No vídeo, o general aparece afirmando que “um manda e o outro obedece”. O militar do Exército minimizou o episódio, e argumentou que o presidente estaria fazendo oposição ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), principal responsável pela chegada da vacina ao Brasil.
“Na reunião do dia 20, com todos os governadores, (reunião) exitosa, discutíamos o PNI (Plano Nacional de Imunização) e a compra de vacinas. Tinha assinado a carta de intenções com o Butantan com 46 milhões de doses. Não era um contrato. Não tinha disposições legais para fazer o contrato. Só chegaram na Medida Provisória que chegou no começo de janeiro. Não havia condições de fazer o contrato. Vínhamos negociando com o Butantan o tempo todo. Aquela reunião foi a carta de intenção. Eu coloquei isso para os governadores”, recordou o militar.
Jargão militar
O ex-ministro contou que Doria gravou um vídeo com uma posição de política, afirmando que o governo federal iria comprar a vacina, e que isso causou uma reação de Bolsonaro. “Naquele momento, eu estava no segundo ou terceiro dia (infectado) com covid. O presidente foi me visitar. A discussão era aquela. A internet estava bombando. Quem manda em quem? Era um jargão militar, uma posição de internet, e mais nada. Sentado num quarto, um manda e o outro obedece. Quem manda é ele, e eu obedeço. É um jargão simplório”, justificou-se.
“Nunca o presidente da República me mandou desfazer qualquer contrato ou acordo com o Butantan em nenhuma vez. O presidente da República fala como chefe de Estado, de governo, comandante em chefe das Forças Armadas, chefe da administração federal, e como agente político. Se pronuncia como agente político. Quando ele recebe uma posição política de São Paulo, ele se posiciona como agente político também. Eu queria dizer que a posição de agente político ali não interferiu em nada o que fazíamos com o Butantan. Nós tínhamos reunião com o Butantan semanalmente, idas e vindas, desde então, por novembro e dezembro, sem parar. Isso é realidade”, argumentou Pazuello.
“Acatou ou não acatou?”
Calheiros insistiu. “De que forma o presidente lhe comunicou sobre essa decisão?”, questionou. “Nunca comunicou nada disso. Nunca falou para que eu não comprasse um ‘ai’ do Butantan. Ele falou publicamente, mas para o ministério e para mim, nunca. Até porque eu não tinha comprado nada”, rebateu o general. O relator questionou mais uma vez. “Vossa excelência acatou ou não acatou?”, repetiu. “Ele não me deu ordem para não comprar nada”, afirmou Pazuello.
“Como foi formalizado o cumprimento dessa decisão?”, voltou a questionar o senador. “A ordem nunca foi efetuada. Não foi formalizado e nem interrompido nada. Foi uma posição do agente político na internet”, repetiu o ex-ministro.
O relator seguiu questionando a testemunha, que manteve a resposta. “Qual foi a justificativa técnica dada para que a compra fosse efetivada?”, indagou Calheiros. “Não havia compra, contrato, só o termo de intenção de compra”, respondeu o ex-ministro. “Vossa excelência insurgiu contra a ordem?”, perguntou o parlamentar. “Nunca foi dada essa ordem”, rebateu mais uma vez o militar. “Publicamente foi. Postada, defendida em lives”, destacou o relator. “Uma postagem na internet não é uma ordem. Uma ordem é direta, verbal e por escrito. Uma ordem verbal nunca foi dada”, insistiu Pazuello.
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