CPI da Covid

Pazuello se contradiz sobre relacionamento com Bolsonaro no combate à pandemia

Questionado sobre intromissões do presidente no Ministério da Saúde, general se contradiz para proteger Bolsonaro e também contraria depoimentos de Mandetta e Teich à CPI da Covid. Ambos deixaram o comando do ministério após desmandos do mandatário no combate à pandemia

Luiz Calcagno
postado em 19/05/2021 11:37 / atualizado em 19/05/2021 11:38
 (crédito: Edilson Rodrigues/Agência Senado)
(crédito: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

Em seu depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito da covid-19, o ex-ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, apresentou contradições já no começo da oitiva ao tratar da própria gestão e, também, em relação aos depoimentos dos dois ex-ministros anteriores, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich.

No primeiro caso, Pazuello ignorou, em suas respostas, os desmandos do presidente de República, Jair Bolsonaro, por exemplo, no caso da compra de vacina, quando, em 22 de outubro, após ser desautorizado pelo mandatário na compra da vacina chinesa, o ministro disse, em vídeo, que “um manda e outro obedece”.

No caso dos depoimentos dos antecessores, Mandetta e Teich relataram intromissão de Bolsonaro na pasta, enquanto, com Pazuello, aparentemente, o presidente teria mudado completamente de postura, passando a afirmar que os assuntos do Ministério da Saúde seriam tratados apenas pelo ministro. O militar admitiu que Bolsonaro ouvia outras pessoas sobre a pandemia que não o ministério, mas negou que houvesse um gabinete paralelo que aconselhasse o chefe do Executivo.

“Três depoentes apontaram a essa CPI que o presidente guiava-se por orientação e um aconselhamento paralelo. Pessoas fora do Ministério da Saúde que participavam de reuniões no Palácio do Planalto. Mandetta falou em Carlos Bolsonaro, e o presidente da Anvisa (o contra-almirante Barra Torres) mencionou a médica Nise Yamaguchi. Ernesto (que depôs nesta terça, 18 de maio), falou de Osmar Terra e a imunização de rebanho. As políticas de gestão sanitária da pandemia advinham de técnicos? Ou continuava existindo esse aconselhamento paralelo?”, questionou o relator, Renan Calheiros (MDB-AL).

"Pedra nesse assunto"

O militar do Exército disse que falaria de forma a “colocar uma pedra nesse assunto”. “O presidente da República falou para mim e para ministros várias vezes: assunto de saúde, quem trata é o ministro Pazuello. Nem uma vez eu fui chamado para ser orientado pelo presidente da República de forma diferente com aconselhamentos externos. Nunca, nem uma vez. Não quero dizer com isso que qualquer pessoa, principalmente um presidente da República, não ouça ou não levante dados ou não procure avaliar o que está acontecendo em volta dele. Seria um absurdo o presidente não ouvir opiniões, versões, para criar a própria posição como presidente. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Daí para ele trazer de lá qualquer orientação contrária a minha, nunca houve”, negou o militar.

Calheiros não se deu por satisfeito. “Chegaremos lá”, disse. Ainda segundo Pazuello, todas as orientações técnicas para o combate à pandemia teriam sido tratadas no nível de secretarias do Ministério da Saúde.

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