CPI da Covid-19

Araújo remete ao Ministério da Saúde falhas durante a pandemia

Ex-chanceler afirmou à CPI que a atuação do Itamaraty se deu de maneira "secundária", sempre sob coordenação da pasta então comandada por Eduardo Pazuello. Parlamentares afirmam que depoimento dificulta situação do general

Luiz Calcagno
Sarah Teófilo
Bruna Lima
postado em 18/05/2021 21:36
 (crédito: Edilson Rodrigues)
(crédito: Edilson Rodrigues)

Durante depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 nesta terça-feira (18/5), o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, remeteu ao Mistério da Saúde decisões no âmbito da pandemia, como negociações internacionais para aquisição de vacina, insumos ou cloroquina. Araújo frisou que o Itamaraty atuava de forma “secundária”, sempre sob orientações e solicitações do Ministério da Saúde. Problemas apontados pelos senadores ficaram na ‘conta’ de Pazuello, que prestará depoimento hoje na CPI.

Sobre o consórcio Covax Facility, por exemplo, iniciativa internacional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para garantir acesso à vacina contra covid-19 com equidade para os mais de 150 países que integram a aliança, Araújo afirmou que a decisão por aderir ao mínimo oferecido foi do Ministério da Saúde. O Brasil adquiriu o suficiente para imunizar 10% da população, mas tinha a opção de comprar o suficiente para imunizar 50%. Segundo o ex-chanceler, as negociações ocorreram com a presença do Itamaraty, mas as decisões cabiam à Saúde.

“Essa decisão não foi minha, foi do Ministério da Saúde dentro da sua estratégia de vacinação”, disse, ao ser questionado pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL). Araújo disse que nunca foi contra a iniciativa. Questionado o motivo da demora para assinatura de contrato, somente em em setembro, afirmou que diversos países pediram mais tempo para análise de contrato e negociação de termos, e que ele havia enviado uma carta manifestando interesse de adesão à aliança ainda em julho. 

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) pontuou que, em setembro, quando o Brasil finalmente aderiu ao Covax Facility, 170 países já haviam aceito as condições estabelecidas pelo consórcio.

Cloroquina

No caso da cloroquina, medicamento sem eficácia comprovada contra a covid-19 e que foi amplamente difundida pelo governo federal, Araújo afirmou que o Itamaraty atuou para buscar no exterior insumos para a produção do remédio a pedido da pasta da Saúde. “Foi o Ministério da Saúde que pediu para viabilizar a importação”, disse. Segundo ele, houve uma busca de insumos na Índia, com troca de mensagens com autoridades indianas. Ao ser questionado se Bolsonaro atuou nessas negociações, afirmou que o presidente pediu para que o ex-chanceler viabilizasse o contato entre ele e o primeiro-ministro da Índia.

O ex-ministro frisou que a adoção de políticas e estratégias no âmbito da pandemia cabiam primordialmente ao Ministério da Saúde. Questionado pelo vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), qual foi a atuação do Itamaraty nas negociações das vacinas de Oxford/Astrazeneca e a Coronavac, do Instituto Butantan, disse que o apoio foi “secundário, logístico, apenas operacional”. “Apoio aos trâmites de comunicações, mas não da substância da negociação”, afirmou.

Ao relator, Renan Calheiros (MDB-AL), Araújo pontuou que houve estratégia para obtenção de vacina definida pelo Ministério da Saúde, em coordenação com o Itamaraty, quando necessário. Sempre que questionado sobre as ações do Ministério das Relações Exteriores, frisava que a atuação se dava a partir de orientações da Saúde, que é quem centralizava a estratégia de vacinação, e que o Itamaraty, desta forma, não atuava de forma autônoma no âmbito da pandemia.

Como adiantado ontem pelo Correio, essa foi uma das estratégias escolhidas para o depoimento do ex-chanceler: remeter questões de vacinação ao Ministério da Saúde. “Pazuello terá muito a responder amanhã”, disse o senador Humberto Costa (PT-PE). O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigo (Rede-AP), ressaltou que Araújo “comprometeu Pazuello”. “Parece haver um abandono de Pazuello. O melhor que ele poderia fazer no dia de amanhã era colaborar com a CPI. Ou todos os elementos vão levar lamentavelmente à apontar ele como responsável pela morte de milhares de brasileiros”, disse.

Calheiros também relatou que Pazuello foi o maior responsabilizado durante o depoimento do ex-chanceler. “Com esse esforço, com essa declaração, ele transfere o ônus dos equívocos para a pasta da Saúde e quem a ocupou”, afirmou.

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