Durante depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 nesta terça-feira (18/5), o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, remeteu ao Mistério da Saúde decisões no âmbito da pandemia, como negociações internacionais para aquisição de vacina, insumos ou cloroquina. Araújo frisou que o Itamaraty atuava de forma “secundária”, sempre sob orientações e solicitações do Ministério da Saúde. Problemas apontados pelos senadores ficaram na ‘conta’ de Pazuello, que prestará depoimento hoje na CPI.
Sobre o consórcio Covax Facility, por exemplo, iniciativa internacional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para garantir acesso à vacina contra covid-19 com equidade para os mais de 150 países que integram a aliança, Araújo afirmou que a decisão por aderir ao mínimo oferecido foi do Ministério da Saúde. O Brasil adquiriu o suficiente para imunizar 10% da população, mas tinha a opção de comprar o suficiente para imunizar 50%. Segundo o ex-chanceler, as negociações ocorreram com a presença do Itamaraty, mas as decisões cabiam à Saúde.
“Essa decisão não foi minha, foi do Ministério da Saúde dentro da sua estratégia de vacinação”, disse, ao ser questionado pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL). Araújo disse que nunca foi contra a iniciativa. Questionado o motivo da demora para assinatura de contrato, somente em em setembro, afirmou que diversos países pediram mais tempo para análise de contrato e negociação de termos, e que ele havia enviado uma carta manifestando interesse de adesão à aliança ainda em julho.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) pontuou que, em setembro, quando o Brasil finalmente aderiu ao Covax Facility, 170 países já haviam aceito as condições estabelecidas pelo consórcio.
Cloroquina
No caso da cloroquina, medicamento sem eficácia comprovada contra a covid-19 e que foi amplamente difundida pelo governo federal, Araújo afirmou que o Itamaraty atuou para buscar no exterior insumos para a produção do remédio a pedido da pasta da Saúde. “Foi o Ministério da Saúde que pediu para viabilizar a importação”, disse. Segundo ele, houve uma busca de insumos na Índia, com troca de mensagens com autoridades indianas. Ao ser questionado se Bolsonaro atuou nessas negociações, afirmou que o presidente pediu para que o ex-chanceler viabilizasse o contato entre ele e o primeiro-ministro da Índia.
O ex-ministro frisou que a adoção de políticas e estratégias no âmbito da pandemia cabiam primordialmente ao Ministério da Saúde. Questionado pelo vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), qual foi a atuação do Itamaraty nas negociações das vacinas de Oxford/Astrazeneca e a Coronavac, do Instituto Butantan, disse que o apoio foi “secundário, logístico, apenas operacional”. “Apoio aos trâmites de comunicações, mas não da substância da negociação”, afirmou.
Ao relator, Renan Calheiros (MDB-AL), Araújo pontuou que houve estratégia para obtenção de vacina definida pelo Ministério da Saúde, em coordenação com o Itamaraty, quando necessário. Sempre que questionado sobre as ações do Ministério das Relações Exteriores, frisava que a atuação se dava a partir de orientações da Saúde, que é quem centralizava a estratégia de vacinação, e que o Itamaraty, desta forma, não atuava de forma autônoma no âmbito da pandemia.
Como adiantado ontem pelo Correio, essa foi uma das estratégias escolhidas para o depoimento do ex-chanceler: remeter questões de vacinação ao Ministério da Saúde. “Pazuello terá muito a responder amanhã”, disse o senador Humberto Costa (PT-PE). O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigo (Rede-AP), ressaltou que Araújo “comprometeu Pazuello”. “Parece haver um abandono de Pazuello. O melhor que ele poderia fazer no dia de amanhã era colaborar com a CPI. Ou todos os elementos vão levar lamentavelmente à apontar ele como responsável pela morte de milhares de brasileiros”, disse.
Calheiros também relatou que Pazuello foi o maior responsabilizado durante o depoimento do ex-chanceler. “Com esse esforço, com essa declaração, ele transfere o ônus dos equívocos para a pasta da Saúde e quem a ocupou”, afirmou.
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