Na condição de representante da bancada feminina, a senadora Kátia Abreu (PP/TO) usou o espaço de fala na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, nesta terça-feira (18/5), para tecer duras críticas ao sabatinado do dia, o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo. A parlamentar afirmou durante a exposição que o ex-chanceler guiou o Brasil ao naufrágio da política internacional, servindo como uma "bússola que nos direcionou ao caos".
Cada parlamentar tem 15 minutos para fazer perguntas ao depoente, mas Kátia usou o momento, extrapolando quase 5 minutos, para fazer uma lista do que considerou como sendo erros cometidos durante a gestão de Araújo, e não deixou espaço para que o ex-ministro respondesse. "Imagino que o senhor tenha uma memória seletiva para não dizer uma memória leviana. O senhor não se lembra de nada que importa do que ocorreu efetivamente. E se lembra de questões mínimas, supérfluas, e até mesmo não verdadeiras", justificou a senadora ao escolher a abordagem que adotaria no momento de fala.
"A impressão que se tem é que existe um Ernesto que fala conosco e que nós ouvimos a voz, e outro Ernesto nas redes, na internet, nos artigos no blog, falando coisas totalmente diferentes. Sinceramente estou confusa de qual personalidade nós devemos considerar", disse, chegando a se referir ao depoente como ex-Ernesto.
Durante o depoimento, Araújo negou ter provocado atritos com a China e chegou a dizer que as relações comerciais com o país tiveram um incremento durante a gestão, mas Kátia contra-argumentou, afirmando que o aumento foi adquirido "a despeito do senhor" e "graças à competência dos pesquisadores do Brasil e produtores rurais".
Para a parlamentar, o ex-chanceler faltou com a verdade ao negar que tenha atacado a China, relembrando que em uma reunião ministerial de 2020, cujo sigilo foi quebrado pela Justiça, Ernesto teria proferido sérios ataques contra o principal parceiro econômico brasileiro a ponto de a "AGU pedir encarecidamente que um pedaço fosse retirado ou vai dar um problema diplomático seríssimo". "E adivinha de quem era esse trecho? De vossa senhoria, onde o senhor atacava fortemente a China”, completou.
A senadora ainda sustentou que o artigo de Araújo publicado em agosto de 2020, com o título de "Comunavírus" é outro exemplo de embate aos chineses. "Isso não é ataque?", questionou, afirmando, também, que o ex-ministro criticou a proximidade não só com o país asiático, mas com a Europa, países da América Latina e com os demais integrantes dos Brics. "O senhor é um homem muito ousado, muito corajoso. Em algum momento o senhor se lembrou que estava lançando ao mar todo o trabalho de anos da diplomacia brasileira? E esses comentários que a vossa senhoria livremente fazia colaboraram na compra de vacinas? Com o combate à pandemia? Ou foram palavras ideológicas jogadas ao vento?"
"Negacionista compulsivo"
Kátia lembrou, ainda, da fala do presidente Jair Bolsonaro na Cúpula do Clima, especificamente o momento em que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, saiu da sala no momento do pronunciamento do líder brasileiro. "Aquela mensagem, se o senhor não conseguiu ler, diz para o mundo: 'Eu não tenho nada para ouvir do Brasil'. Não tem justificativa para aquela levantada de cadeira a não ser a insignificância que o senhor trabalhou para colocar o Brasil nessa posição", criticou a senadora, definindo o episódio como o "maior vexame". E completou a crítica se referindo ao ex-chanceler como um "negacionista compulsivo", cuja demissão, para ela, foi motivo de alívio para a diplomacia de todos os parceiros.
O atrito aberto entre Ernesto e Kátia Abreu marcou o período que antecedeu a saída do ex-chanceler do governo. Após ser confrontado pela senadora, ele usou as redes sociais para sugerir que as críticas recebidas da senadora dizem respeito a interesses relacionados ao 5G e não à vacinação contra a covid-19.
Em nota, a senadora disse que o ex-chanceler agiu de forma "marginal" e faltou com a verdade em relação à conversa dos dois sobre o 5G. De acordo com ela, Araújo mostrou que "está à margem de qualquer possibilidade de liderar a diplomacia brasileira" e reforçou o pedido pela saída do ex-chanceler. "O Brasil não pode mais continuar tendo, perante o mundo, a face de um marginal".
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"negacionista compulsivo"
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