CPI da Covid

Na CPI, Ernesto Araújo diz que nunca provocou atrito com a China

Presidente da comissão, senador Omar Aziz, afirmou que ex-ministro mentiu ao fazer as declarações, e o alertou que se continuar com esse comportamento, poderá ter problemas

Sarah Teófilo
Renato Souza
postado em 18/05/2021 10:59 / atualizado em 18/05/2021 11:00
 (crédito: Reprodução/TV Senado)
(crédito: Reprodução/TV Senado)

Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga ações e omissões do governo na pandemia, o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo afirmou, nesta terça-feria (18/5), que nunca promoveu "atrito com a China". O ex-chanceler está sendo ouvido na condição de testemunha.

Ao ser questionado pelo relator, Renan Calheiros, Ernesto admitiu que não existiam diretrizes únicas ou plano de atuação junto à comunidade internacional para a obtenção de vacina e outros insumos para uso no combate à covid-19. Conhecido por ser um dos representantes mais ideológicos do governo do presidente Jair Bolsonaro, o ex-chanceler afirmou que não provocou atrito ideológicos com a China.

"Jamais promovi atrito com a China antes ou durante a pandemia", disse Araújo. No entanto, diversas declarações dele geraram crises diplomáticas com o país asiático. Em uma delas, o ex-ministro publicou em seu blog um texto em que acusava o uso do vírus para espalhar "o comunismo" no planeta.

As declarações foram feitas sem provas. "Não bastasse o coronavírus, agora também temos que enfrentar o comuna vírus. No meu blog, analiso o livro "Virus" de Slavoj iek e seu projeto de usar a pandemia para instaurar o comunismo, o mundo sem nações nem liberdade, um sistema feito para vigiar e punir", escreveu ele, em 22 de abril do ano passado.

O presidente da CPI, Omar Aziz, criticou as declarações, e disse que Ernesto está mentindo durante o depoimento. "Na minha análise pessoal, vossa excelência está faltando com a verdade. Vossa excelência escreveu no seu Twitter, escreveu artigos sobre isso", disse o senador.

Araújo negou também que o Brasil tenha se alinhado à política internacional dos Estados Unidos, e disse se tratar de uma "aproximação". Apesar disso, declarou que não houve benefícios à imunização de brasileiros com a proximidade, pois os norte-americanos proibiram a exportação de vacinas. "Sim, como eu disse, os Estados Unidos proibiram qualquer exportação de vacinas", disse na CPI.

Mais polêmicas

O ex-ministro atuou duas vezes depois que um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), criticou o país e acirrou a crise diplomática. No último episódio, em novembro, o Itamaraty chegou a enviar uma carta chamando a resposta chinesa ao parlamentar de ofensiva e desrespeitosa.

No final do ano passado, por exemplo, Eduardo Bolsonaro fez uma série de publicações em sua rede social que acusava a China de espionagem via 5G. "O Brasil apoia projeto dos EUA para o 5G e se afasta da tecnologia chinesa", dizia a publicação, que foi apagada por ele. E continuava: "O governo de Jair Bolsonaro declarou apoio à aliança Clean Network, lançada pelo governo Donald Trump, criando uma aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China".

Como resposta, a embaixada chinesa divulgou uma nota manifestando forte insatisfação e repúdio ao comportamento do deputado e disse, ao final, que as personalidades brasileiras devem "deixar de seguir a retórica da extrema direita norte-americana, cessar as desinformações e calúnias sobre a China e evitar ir longe demais no caminho equivocado".

O Itamaraty respondeu à nota da embaixada da China no Brasil, chamando a resposta chinesa de ofensiva e desrespeitosa, dizendo não ser apropriado que “agentes diplomáticos” tratem assuntos dos dois países pelas redes sociais e que tal atitude não é construtiva e gera “fricções”.

“O tom e conteúdo ofensivo e desrespeitoso da referida ‘declaração’ prejudica a imagem da China junto à opinião pública”, pontuou o ministério em carta divulgada na época. Apesar de criticar a postura chinesa em publicar repúdio ao 03 do presidente nas redes sociais, a situação toda começou na internet.

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