INVESTIGAÇÃO

CPI estuda quebrar sigilo de ex-secretário de Comunicação de Bolsonaro

CPI vai avaliar pedido de obtenção de dados telefônicos e de e-mails do ex-secretário de Comunicação, que vai depor na quarta. Em recente entrevista, ele atribuiu à "incompetência" da equipe de Eduardo Pazuello a dificuldade para a compra de vacinas contra a covid-19

Renato Souza
postado em 08/05/2021 06:00
 (crédito: Alan Santos/PR - 18/12/19)
(crédito: Alan Santos/PR - 18/12/19)

A quebra de sigilo telefônico e de e-mail do ex-secretário de Comunicação do governo Fábio Wajngarten entrou no alvo da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, em andamento no Senado. Ele foi convocado para prestar depoimento na próxima semana, na condição de testemunha. Integrantes do colegiado avaliam que as informações dessas diligências podem trazer importantes elementos para as investigações.

Wajngarten foi chamado pela CPI em razão de uma entrevista que concedeu à revista Veja, na qual atribui à “incompetência” da equipe técnica do Ministério da Saúde a dificuldade do Brasil para adquirir um estoque necessário de vacinas capaz de imunizar a população contra a covid-19.

O ex-secretário disse, também, que atuou pessoalmente nas negociações com a Pfizer. O laboratório, em comunicado divulgado em janeiro último, informou ter proposto ao Brasil, em agosto de 2020, a venda de 70 milhões de doses de vacina, com o início da entrega dos imunizantes a partir de dezembro do mesmo ano. O governo brasileiro, porém, optou por não avançar nas negociações.

O pedido de quebra do sigilo precisa ser votado no plenário da comissão. No entanto, como os parlamentares que integram o comando do grupo de investigação representam a maioria do colegiado, a aprovação é considerada como certa. O foco é saber como ocorreram as negociações para a compra de vacinas entre 2020 e 2021, especialmente as tratativas com a Pfizer.

O presidente Jair Bolsonaro declarou publicamente a recusa, alegando que a Pfizer não se responsabilizou, em contrato, por eventuais efeitos colaterais em quem fosse imunizado. Essa prática não é comum no meio científico, já que os testes ocorrem justamente para apontar quais grupos populacionais podem tomar as vacinas em segurança. Caso ocorram reações graves e até óbito em alguns dos voluntários, em razão do imunizante, os testes são suspensos. Isso não ocorreu com a Pfizer durante as pesquisas e aplicações.

Apesar de o foco ser as negociações de vacinas, incluindo atraso e omissão na aquisição delas, a expectativa é de que a CPI encontre informações sobre o chamado Gabinete do Ódio, grupo que funcionaria dentro do Palácio do Planalto com o objetivo de desenvolver estratégias para atacar adversários do governo pelas redes sociais e criar narrativas falsas, inclusive, em relação a falhas da União na gestão da pandemia.

As informações obtidas devem ser cruzadas com as já acessadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que encontrou indícios de que ataques à Corte e às instituições, assim como a motivação para atos antidemocráticos, partem de dentro do Planalto. De acordo com fontes ligadas às investigações, as diligências apontam a participação do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) na articulação desse grupo, o que deve reforçar a intenção da CPI de chamá-lo para depor nas próximas semanas. O parlamentar já negou que tenha envolvimento com o Gabinete do Ódio. (Colaborou Jorge Vasconcellos)

Agenda da comissão*

Terça-feira
» Depoimento do diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Antonio Barra Torres.

Foco principal: a CPI quer entender, principalmente, o processo que levou à não liberação, pela agência, do uso da vacina russa Sputnik V no Brasil.

Quarta-feira
» Depoimento de Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do governo.

Foco principal: o ex-integrante do governo terá de responder sobre a declaração de que o Ministério da Saúde seria o responsável pelo atraso das vacinas.

Quinta-feira
» Depoimento de representante da Pfizer, uma das fornecedoras de vacina contra a covid-19 no Brasil.

Foco principal: a empresa afirmou que, no ano passado, o governo federal recusou a oferta de doses.

* Programação sujeita a confirmação pela CPI

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