CPI da Covid

Queiroga evita falar sobre eficácia da cloroquina em CPI da Covid

Em depoimento no Senado, o atual ministro da Saúde disse que não recebeu nenhuma orientação do presidente Jair Bolsonaro sobre o medicamento sem eficácia comprovada e afirmou que o tratamento precoce não é tema decisivo no combate à pandemia

Bruna Lima
Maria Eduarda Cardim
postado em 06/05/2021 14:43 / atualizado em 06/05/2021 14:43
 (crédito: Reprodução/TV Senado)
(crédito: Reprodução/TV Senado)

A necessidade de não comprometer a relação com o presidente da República fez com que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, se esquivasse de responder perguntas feitas por senadores relacionadas ao parecer técnico do líder da pasta, que é médico, sobre o uso da cloroquina para tratar pacientes com covid-19. Durante a CPI da Covid, nesta quinta-feira (6/5), Queiroga negou que Jair Bolsonaro tenha pressionado para a defesa do medicamento sem eficácia comprovada para tratar a doença, mas não quis expressar a própria opinião sobre o assunto.

Ao ser questionado reiteradamente se compartilhava da posição de Bolsonaro quanto à indicação do uso da cloroquina, o ministro da Saúde disse: "Eu não faço juízo de valor acerca da opinião do presidente da República. Essa é uma questão de natureza técnica. É assim que o Ministério da Saúde tem que tratar essa questão".

A recusa desagradou a mesa do colegiado, que alegou que a pergunta não é subjetiva. "Você está aqui como testemunha, estou aqui para lhe preservar. Não é achismo. É sim ou não”, declarou o presidente da CPI, o senador Omar Aziz (PSD/AM).

O senador Otto Alencar (PSD-BA), médico de formação, contextualizou o tema com a necessidade de haver uma avaliação médica para que o paciente use ou não a hidroxicloroquina, embasando que a Sociedade Brasileira de Cardiologia, da qual Queiroga foi presidente, não recomenda o uso do medicamento, pelos efeitos colaterais negativos, sobretudo em pessoas com doenças cardíacas. Ao ser questionado pelo parlamentar se reconhecia o papel do médico em prescrever, o ministro disse que sim.

Na sequência, Alencar alegou que o presidente da República recomendou o uso da cloroquina, o que seria "muita irresponsabilidade". "Um colega nosso tomou e foi a óbito. Ele não pode receitar o Brasil. O paciente tem que fazer, no mínimo, um eletrocardiograma". Questionado pelo parlamentar se essa atitude do presidente é correta, Queiroga se esquivou novamente do afronte direto ao mandatário. "O senhor é ministro da Saúde e achar que o presidente da República pode receitar hidroxicloroquina está errado. Está equivocado", lamentou o parlamentar.

Orientação de Bolsonaro

Das poucas questões sobre a cloroquina que foram respondidas de forma direta por Queiroga está o questionamento do relator Renan Calheiros (MDB-AL) sobre se houve alguma orientação expressa ou velada pela promoção do uso do medicamento por parte do presidente. "Não recebi nenhuma orientação do presidente da República nesse sentido", garantiu o ministro.

Para não responder diretamente às perguntas sobre a cloroquina, Queiroga usou da justificativa de que o tema ainda será deliberado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (SUS), que elabora um protocolo clínico, e que a figura do ministro da Saúde pode ser a última instância a deliberar sobre a formulação. E, por isso, não poderia opinar. "Isso precisa ser colocado em protocolo clínico para que a gente possa convergir. No que há de divergência, essas serão superadas", disse.

Senadores da oposição criticaram duramente a conduta e frisaram a demora do Ministério da Saúde em deliberar sobre o assunto. "Um ano de pandemia e mais de 400 mil mortos", destacou o vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede/AP), ao ressaltar que a secretaria especial para deliberar sobre a covid-19 ainda será criada, dependendo do edição de uma medida provisória.

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