Um bate-boca entre senadores interrompeu o depoimento que o ex-ministro da Saúde Nelson Teich prestava, ontem, à CPI da Covid. O motivo da discussão foi um acordo celebrado entre os integrantes do colegiado para garantir à bancada feminina o direito à fala durante as reuniões. Entre os 11 titulares e sete suplentes da comissão não há senadoras.
Conforme o acordo, a cada lista de inscritos, uma representante da bancada feminina tem direito a ser ouvida na comissão, em reuniões presenciais ou remotas. Durante o depoimento do ex-ministro, o senador governista Ciro Nogueira (PP-PI), titular da CPI, interrompeu a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA).
“Vou aceitar hoje, em respeito à senadora, nada contra. Mas isso não está em regimento, não foi acordado pela comissão, e a gente fica sempre com o papel de ser o vilão desta comissão por querer cumprir o regimento”, disse o parlamentar.
O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), explicou a Nogueira que a questão já havia sido discutida na terça-feira e que, ainda ontem, após o depoimento de Teich, voltaria a ser debatido. “Não há vilões, não existe isso. Isso foi uma concessão feita por nós”, afirmou Aziz.
Na sequência, a palavra foi devolvida à senadora Eliziane Gama, que criticou Ciro Nogueira. Em um dos momentos mais acalorados, ela chamou o colega de “descontrolado” e disse para ele que não “admite grito”. “Só não entendo o porquê de tanto medo das vozes femininas”, afirmou a parlamentar.
Quando vários senadores falavam ao mesmo tempo, o presidente da comissão anunciou a suspensão dos trabalhos. Porém, representantes da bancada feminina prosseguiram nas discussões. “A título de informação para o senador Ciro: nós conseguimos, aqui no Congresso, a liderança feminina. Somos 12 senadoras, temos, inclusive, direito a destaque, com a alteração do regimento que fizemos”, enfatizou Eliziane Gama. “Acho que precisamos debater os casos de comissões em que não houver a participação de uma mulher, que a nossa bancada indique uma mulher. Acho que, de fato, precisamos alterar. Agora, no ponto de vista da razoabilidade, senador Ciro, essa comissão tem 18 membros, entre titulares e suplentes, e a gente não tem nenhuma representação feminina. Então, é uma concessão que foi colocada”, completou.
Aziz tentou acabar com o bate-boca e retomar a oitiva de Teich. “Estamos em plena reunião, por favor. Fiz um apelo de ouvir a representação de uma senadora da República, não estou fazendo nenhum favor”, destacou. “Ontem, fiz esse apelo para vossa excelência para que nós pudéssemos atender ao pedido das mulheres. No teor do regimento, nós estamos, sim, fazendo uma concessão. Não é porque elas são mulheres, é porque elas têm uma representatividade igual à nossa”, disse Aziz a Ciro Nogueira.
A senadora Simone Tebet (MDB-MS), presidente da bancada feminina, reforçou as palavras de Eliziane Gama. “Há uma grande diferença de privilégio e prerrogativa. Privilégio é inadmissível em um Estado de direito, e as mulheres desta casa nunca vão pleitear. Prerrogativas é diferente. Nós pedimos ao plenário desta comissão, na data de ontem, que pudéssemos ter direito a uma fala na lista dos titulares e suplentes”, afirmou. Ela lembrou que havia sido decidido, na reunião de terça-feira, que as senadoras também teriam o direito de serem as primeiras da lista a terem o direito de fala.
O senador governista Marcos Rogério (DEM-RO) acusou os membros da CPI de terem autorizado a fala da bancada feminina como forma de reforçar a oposição ao presidente Jair Bolsonaro. “Todo o Senado tem absoluto respeito pela bancada feminina e por sua representação nesta Casa. Foi feito o gesto e votado por todos nós em relação à bancada feminina”, ressaltou. “Agora, quando dá ocupação de assento numa CPI, senhor presidente, isso tem peso não só na questão da votação e da deliberação dos requerimentos, isso tem peso em relação à narrativa feita no âmbito desta comissão e para a sociedade. O que se busca aqui, parece, é engrossar o coro daqueles que querem ‘dar peia’ no presidente Bolsonaro.”
Quando as senadoras começaram a protestar contra a fala de Marcos Rogério, o presidente da CPI encerrou de vez a sessão, após seis horas de depoimento de Teich.
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