Pazuello, agora, teme a covid

Ex-ministro e general da ativa alega ter encontrado dois militares com covid e pede adiamento da ida à CPI. Nos bastidores, a avaliação é de que a estratégia só aumenta a munição contra o governo e deixa o depoente ainda mais exposto. Ele vem sendo treinado pelo Planalto

Ana Luiza Vinhote - Especial para o Correio BrazilienseM» Ana Maria da Silva » SAMARA SCHWINGEL
postado em 05/05/2021 00:31
 (crédito: NELSON ALMEIDA)
(crédito: NELSON ALMEIDA)

Ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello solicitou, ontem, o adiamento do depoimento que faria hoje à CPI da Covid, alegando ter se encontrado com outros dois coronéis que teriam sido diagnosticados com o novo coronavírus. O pedido foi recebido com desconfiança pelos integrantes da comissão parlamentar de inquérito, mas foi acolhido. O general, agora, será ouvido em 19 de maio, presencialmente — para falar aos parlamentares, hoje, Pazuello tinha proposto que depusesse por videoconferência, mas o presidente do colegiado, senador Omar Aziz (PSD-AM), recusou.


“Ele teve contato com dois coronéis auxiliares dele, nesse fim de semana, que estão com covid. Segundo a informação que eu tenho, ele entrará em quarentena e não virá depor amanhã (hoje)”, disse Aziz aos integrantes da CPI.


Após o anúncio, o ex-ministro foi criticado porque, até então, desconsiderava recomendações sanitárias, como o isolamento social para se evitar a infecção e transmissão do vírus. A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) lembrou que Pazuello foi flagrado, na semana passada, em um shopping de Manaus sem a máscara de proteção facial — e ainda menosprezou o fato quando foi chamado a atenção. “Ele anda sem máscara e não pode vir à CPI. Vai sem máscara para o shopping e não pode vir à CPI”, reclamou a parlamentar. Em vez do general, quem depõe hoje é o antecessor dele à frente do ministério, Nelson Teich — que deveria ter sido ouvido ontem, assim que a seção com Luiz Henrique Mandetta, que durou aproximadamente 9 horas, fosse concluída.

Decisão equivocada

De acordo com os bastidores da CPI, a estratégia adotada pelo general e pelo governo de adiar a ida à CPI pode tornar as coisas piores para ambos. Isso porque, como os depoimentos no colegiado continuarão, o ex-ministro tem tudo para encontrar um ambiente ainda mais desfavorável quando comparecer para prestar esclarecimentos — pois, dependendo daquilo que os outros disserem aos senadores, Pazuello ficaria em situação insustentável e arcaria com toda a culpa pelas decisões equivocadas durante o período em que esteve no comando do ministério.


De acordo com o jornal O Globo, o general demonstrou extremo nervosismo no treinamento, de cerca de seis horas, a que foi submetido dias atrás por auxiliares do Palácio do Planalto, na preparação para o enfrentamento da CPI. Uma das principais preocupações do governo é com o temperamento explosivo e autoritário do ex-ministro, algo que pôde ser visto anteriormente em coletivas de imprensa e em audiências no Congresso.


Mas esse não é o único ponto vulnerável de Pazuello. Integrantes do governo e da tropa de choque no Congresso estão preocupados com a afirmação do general, feita antes de passar o cargo para o atual ministro, Marcelo Queiroga, de que recebera pedidos de “um pixulé” (dinheiro) feito por parlamentares, no final de 2020. Segundo o general, uma “carreata de gente pedindo dinheiro politicamente” teria batido às portas do ministério, no fim do ano passado.


Entre os integrantes da CPI, é certo de que Pazuello será cobrado a apontar nomes de quem fez os pedidos de dinheiro — posição que contrasta com o discurso do presidente Jair Bolsonaro de que seu governo acabou com os casos de corrupção no governo.

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