Responsável pela articulação do Palácio do Planalto com o Congresso, a ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, afirmou, ontem, que a CPI da Covid no Senado não tem sido o foco da sua pasta. “(Estamos) Fechando a questão do Orçamento”, frisou, ao ser questionada sobre as prioridades do Executivo.
Irritado com o que chamou de “erros” do Planalto, o senador Marcos Rogério (DEM-RO), vice-líder do governo e integrante da CPI da Covid, criticou a articulação política de Bolsonaro. “O governo errou, deixou correr solto (a CPI). Agora, querem correr atrás do prejuízo. O Palácio não procurou a própria base para conversar”, destacou Rogério, em entrevista à CNN Brasil.
O governo tenta ganhar tempo e adiar ao máximo a CPI, com o objetivo de negociar cargos no primeiro escalão e atender à pressão de parlamentares para acomodar suas emendas no Orçamento deste ano. A negociação tem sido conduzida atualmente pelo ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos. Há cinco deputados no comando de ministérios, e nenhum senador. No início do ano, houve pressão para que Davi Alcolumbre (DEM-AP) ou Nelsinho Trad (PSD-MS) assumissem o Ministério do Desenvolvimento Regional, mas a negociação não teve sucesso. Senadores governistas sentem que o Planalto desprestigia a Casa legislativa.
O Executivo tem atuado na questão da CPI com os líderes do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), e no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO). Ambos defendem o início dos trabalhos apenas de forma presencial e quando todos os participantes estiverem vacinados. Integrante titular do colegiado, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente da sigla do Centrão e aliado de Bolsonaro, compartilha a opinião dos líderes do governo.
Apesar disso, a data de instalação da CPI está marcada para terça-feira. Um acordo entre a maior parte dos participantes prevê que Omar Aziz (PSD-AM) seja o presidente; Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o vice; e Renan Calheiros atue como relator.
Aliados de Bolsonaro, no entanto, fazem pressão nas redes para impedir Calheiros de assumir esse posto porque, além de ser crítico de Bolsonaro, o senador é aliado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nas plataformas digitais, bolsonaristas batem na tecla de que o parlamentar não pode integrar a CPI por ser pai do governador de Alagoas, Renan Filho (MDB-AL). O colegiado vai investigar o destino do dinheiro repassado pelo governo federal a estados e municípios, entre os quais Alagoas, para o combate à pandemia da covid-19. Um dos que enfatizam a suspeição de Calheiros é o senador governista Eduardo Girão (Podemos-CE). Ele anunciou a candidatura à presidência da CPI com o objetivo de, se eleito, definir outro parlamentar para a relatoria (leia Cinco perguntas para).
Estrago
Apesar da pressão, o governo não tem maioria na Casa para mudar o acerto feito por parlamentares. Foi o que explicou o senador Humberto Costa (PT-PE), um dos 11 integrantes da CPI. “Creio que o acordo vai ser cumprido. Omar Aziz assumiu esse compromisso de indicar Renan para a relatoria. O MDB poderia indicar o presidente — e tem voto para isso —, mas fez a opção de ter a relatoria. Girão não tem chances de ser eleito presidente”, enfatizou.
Para Cláudio Couto, coordenador de mestrado profissional em gestão e políticas públicas da FGV, o estrago no governo independe de quem seja o relator da CPI. Ele acredita que um relatório objetivo, detalhando ações e omissões do Executivo na pandemia, será suficiente.
Doutor em ciência política pela Universidade Federal de Pernambuco, Adriano Oliveira tem visão parecida. Na opinião dele, se Calheiros não for o relator, o senador que assumir o posto sofrerá grande pressão dos colegas e da sociedade para construir um relatório objetivo e correto. “A CPI ganhou uma dimensão que, naturalmente, impede o relator de apresentar um relatório pífio”, frisou.
(Israel Medeiros com Agência Estado)