Numa agenda frenética com lideranças evangélicas, o presidente Jair Bolsonaro trabalha para não perder apoio, nas igrejas, à reeleição em 2022. Nesta segunda-feira (19/4), ele reuniu-se com os pastores Silas Malafaia, presidente do Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil (Cimeb), e Fábio Sousa, da Igreja Fonte da Vida.
O entrave no caminho do chefe do Executivo é o avanço da pandemia, que tem provocado o fechamento de templos. A disseminação do vírus no meio religioso e a perda de vidas entre fiéis e pastores geram forte impacto no respaldo político ao governo.
Ao mesmo tempo, o Planalto vê o PT, com foco no pleito do ano que vem, e partidos do Centrão iniciarem uma cruzada em meio às lideranças evangélicas. A disputa é por uma grande fatia do eleitorado. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), em 2010, havia 42,3 milhões de evangélicos. Como a religião está em franco crescimento no Brasil, hoje já seriam mais de 60 milhões de fiéis.
Ao contrário da Igreja Católica, os evangélicos não têm uma liderança única, muito menos entidade ou grupo em nível nacional com influência sobre todas as vertentes — há diversas subdivisões, muitos templos independentes, que não atuam em coligações ou associações.
As declarações de Bolsonaro contra o uso de máscaras, o distanciamento social e as demais medidas sanitárias são vistas como uma desvalorização da vida da população, o que desagrada a fiéis e pastores. Nos cultos, pastores e bispos têm destacado a importância do uso de álcool em gel e medição de temperatura, além de manter distância dentro e fora dos templos para evitar a propagação da doença.
O pastor Josimar Francisco da Silva, presidente do Conselho de Pastores Evangélicos do Distrito Federal (Copev), afirmou que a igreja tenta se manter longe da política. “Os evangélicos oram muito por ele (Bolsonaro), não sei por quê. Quando houve essa mudança de governo, a igreja estava sendo muito perseguida pela esquerda… Nós tentamos manter distância da política”, frisou. “Não é pelo presidente que oramos, é pelo país, pela estabilidade. Já oramos pelo ex-presidente Lula, pelo Temer, que representam os rumos do Brasil.”
Ele destacou que Bolsonaro é a favor de pautas em comum com a igreja evangélica, mas que não existe apoio irrestrito. “Ele defende muito a liberdade religiosa, o que já é uma grande coisa, mas não estamos ligados à pessoa do Bolsonaro, mas, sim, à figura de presidente da República. Estamos tomando nossos cuidados, usando máscaras, independentemente do que o presidente diz”, assegurou. “Respeitamos os decretos dos estados e atuamos seja presencial seja a distância. A igreja é independente, apesar de muitos líderes serem próximos de políticos.”
Mestre e doutoranda em teologia pela Escola Superior de Teologia do Rio Grande do Sul, Denise Santana enfatizou que pastores das grandes igrejas não falam por todo o segmento. “Os dois pastores que se encontraram com Bolsonaro falam em nome deles, respondem pela igreja deles, e não em nome de todo o segmento evangélico do Brasil, que é muito fragmentado. Ele tem um amplo apoio, mas não é de 100%”, disse.
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Escolha de partido
O presidente Jair Bolsonaro disse, ontem, que deve escolher um novo partido até o fim deste mês, já que o Aliança pelo Brasil, a legenda que tenta criar, não deve sair do papel até as eleições do ano que vem. “Para o Aliança é muito pequena a chance. Já estou atrasado, e não tem outro partido. Espero que, este mês, eu resolva”, afirmou. “Abril tá bom. O duro foi quando me candidatei em fevereiro, março, né, em cima da hora.” Ele também comentou sobre a possibilidade de voto impresso. “Eu tenho esperança de que, em 2022... (ainda temos muitos problemas pela frente), com voto auditável, a gente consiga mudar realmente o Brasil.”