O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, voltou a ser pivô de uma crise no governo, depois de ser acusado pelo superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva, de integrar uma organização criminosa com empresas madeireiras. O delegado, que apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma notícia-crime contra o ministro, na quarta-feira, foi exonerado do comando da superintendência pelo diretor-geral da corporação, Paulo Maiurino. O episódio aumentou ainda mais as pressões contra a permanência de Salles no ministério.
Na notícia-crime apresentada ao Supremo, o delegado acusa o ministro; o presidente do Ibama, Eduardo Bim; e o senador Telmário Mota (PROS-RR) de integrarem organização criminosa e de exercer advocacia administrativa — patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário. Eles teriam atuado na defesa de empresários acusados de extraírem ilegalmente cerca de 200 mil metros cúbicos de madeira, apreendidos pela PF durante a Operação Handrocanthus-GLO.
Recebida pelo presidente do STF, Luiz Fux, a notícia-crime não foi transformada em processo porque o magistrado considerou inadequada a forma com que o delegado formalizou a queixa, por meio de um e-mail à Corte. Deveria ter sido, segundo o magistrado, por Processo Judicial Eletrônico (PJe) ou presencialmente. Saraiva, portanto, terá de encaminhá-la da forma correta.
A nova crise envolvendo Salles repercutiu no Congresso. O vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), cobrou, em entrevista ao Correio, uma “ação enérgica” do governo em relação ao fato. Ele também criticou o anúncio da exoneração do superintendente, determinada pelo novo diretor-geral do DPF, Paulo Maiurino, empossado no cargo no último dia 8.
“As denúncias que pesam sobre o ministro Ricardo Salles, um antiministro do Meio Ambiente, são graves e merecem ser apuradas com muito rigor pelos órgãos competentes. Mais trágico ainda é a demissão do chefe da Polícia Federal, demitido por fazer seu trabalho”, reprovou.
De acordo com ele, “levando em conta que o ministro tem, até o momento, como legado à frente da pasta, diversas ações de desmonte de órgãos de fiscalização e o esvaziamento de recursos para esse fim, quando abriu mão do Fundo Amazônia, é preciso uma ação enérgica do governo federal”.
Notícia-crime
O PDT também entrou com uma notícia-crime contra o ministro no STF, pedindo o imediato afastamento dele do governo até que sejam apuradas as acusações. Nem Salles nem o Planalto se pronunciaram sobre o assunto.
O presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Edvandir Paiva, convocou uma reunião da diretoria para discutir a posição da categoria em relação à troca de comando na superintendência da PF no Amazonas. Ele disse que a entidade vai se manifestar em nota.
O substituto de Saraiva é Leandro Almada, que já atuou como número 2 de Maiurino no Amazonas.