PANDEMIA

Kajuru diz que Bolsonaro não recebeu presidente da Pfizer em 2020

Empresa nega e Palácio do Planalto diz que não irá comentar. Senador Kajuru afirma que a informação foi repassada a ele por um ex-ministro da Saúde. Pfizer já havia dito que ofereceu ao Brasil 70 milhões de doses de vacina contra covid-19 em agosto

O senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) disse ao Correio que o presidente Jair Bolsonaro não teria recebido, no Palácio do Planalto, o presidente da Pfizer em agosto de 2020. O parlamentar não citou nomes, mas o CEO global se chama Albert Bourla. O governo federal firmou contrato para compra de vacinas contra covid-19 com a empresa somente no mês passado.

“Há fatos que a imprensa vai tomar conhecimento, há fatos terríveis. O presidente da Pfizer veio conversar com ele aqui no Brasil e ficou das 8h às 18h esperando, e, no final, recebeu a informação de que (Bolsonaro) não iria atendê-lo, em agosto do ano passado”, afirmou na segunda-feira (12/4). Em janeiro deste ano, a empresa disse que ofereceu 70 milhões de doses de vacina ao Brasil em agosto do ano passado, com previsão de início de entrega em dezembro de 2020.

A assessoria de imprensa da Pfizer disse que a informação dita por Kajuru não procede. O Palácio do Planalto informou que não irá comentar as declarações.

Bolsonaro comentou o assunto no Twitter ainda ontem à noite. "Mais uma mentira do Kajuru. Quem seria o ex-ministro da Saúde citado pelo senador? Com a palavra aquele que me gravou, obviamente, sem autorização."

De acordo com Kajuru, a informação foi repassada a ele por um ex-ministro que irá depor na comissão. Ele não quis dizer o nome do ministro, mas em agosto o ministro da Saúde era o general Eduardo Pazuello, que estava no cargo de forma interina. O médico Nelson Teich saiu da pasta em meados de maio, e Luiz Henrique Mandetta, em abril.

O contrato do governo com a Pfizer demorou a ser firmado porque o Executivo não aceitava algumas cláusulas, em especial uma que garantia a isenção de responsabilidade sobre efeitos colaterais por parte da farmacêutica. A empresa, por sua vez, dizia que o contrato foi o mesmo para todos os países. O entrave só foi solucionado depois de o Congresso aprovar uma lei que prevê que governadores, prefeitos e gestores poderão assumir responsabilidade por eventuais efeitos colaterais causados pela vacina.

Conversas

No último domingo (11), Kajuru divulgou o áudio de uma conversa que teve com Bolsonaro no sábado (10), na qual o presidente o pressiona a investigar também na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 governadores e prefeitos. O pedido de abertura da CPI se refere à atuação do governo federal no âmbito da pandemia. Como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), não queria abrir CPI mesmo com o número de assinaturas sendo o suficiente, o próprio Kajuru e o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) pediram ao Supremo que fosse determinada a instalação da comissão.

Na segunda, a apoiadores, Bolsonaro criticou a divulgação, e Kajuru agora se diz “decepcionado” com o presidente. O senador garante que o presidente sabia que o áudio seria divulgado, e que chegou a informá-lo 20 minutos antes de publicar.

“Não tenho mais nada para conversar com ele. Quero distância oceânica dele. Me decepcionei”, disse ao Correio, afirmando que ainda defenderia o governo nas medidas corretas e criticaria quando fosse tomadas atitudes erradas. “Não torcerei contra ele, porque é torcer contra o Brasil”, afirmou.

Kajuru afirmou que não é e nunca foi amigo do presidente, e que tem uma relação republicana com ele. O senador disse que ligou para conversar com o mandatário sobre outros assuntos, em especial para defender a sua “honra e de seus colegas” após o presidente os chamar de “canalhada” e afirmar que a intenção da CPI era apenas para “pegar” o presidente. “Eu não aceitei, porque ele jogou todo mundo no mesmo balaio”, afirmou.

O senador disse que decidiu publicar a conversa, pois, segundo ele, ninguém acreditaria se ele apenas dissesse que o presidente é favorável à CPI, desde que investigue também governadores e prefeitos. “Pensei que para ele, politicamente, seria uma gravação positiva perante a sociedade e os senadores, porque ninguém mais ia falar que ele era contra a CPI”.

O parlamentar rebateu críticas do vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), de que "age como um vassalo pedindo para ser poupado pelo presidente". Kajuru afirmou que sempre dá as suas opiniões, e que não foi vassalo em momento algum. "Eu fiz isso porque eu quis, não porque ele mandou. Não recebo ordem dele", frisou.

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