O jantar entre o presidente Jair Bolsonaro e um grupo de empresários, na quarta-feira, em São Paulo, causou controvérsia no setor. Em grupos de WhatsApp com nomes importantes do empresariado, a reclamação foi de que o mandatário selecionou apenas os que acenam ao governo e, portanto, a reunião não significa apoio da elite econômica do país ao Executivo, muito menos pode servir como termômetro para sua popularidade no meio.
O encontro ocorreu na casa de Washington Cinel, fundador da Gocil, do ramo de segurança. Segundo especialistas ouvidos pelo Correio, o empresariado está dividido e, de fato, não é possível afirmar que Bolsonaro tenha se reconciliado com o setor que move o Produto Interno Bruto (PIB).
No mês passado, o descontentamento com a atuação do chefe do Executivo na pandemia foi explicitado em uma carta assinada por banqueiros, empresários e economistas. Mais de 500 deles pediram mais eficácia do Planalto nas ações de enfrentamento à crise sanitária. Os que endossaram a mensagem ficaram fora do jantar.
Na saída do encontro, ministros disseram que o tom da conversa foi amistoso, sem cobranças. Fábio Faria, das Comunicações, chegou a dizer que entre os convidados só havia patriotas e que houve elogios ao trabalho do governo junto ao Congresso.
Segundo interlocutores, Bolsonaro se comprometeu com o andamento de reformas estruturantes e em acelerar a imunização da população, fato tido como primordial para a retomada da economia.
O cientista político Eduardo Grin, da Fundação Getulio Vargas, acredita que a reunião com o empresariado não deve ter efeito prático e pode ter sido uma das últimas chances dadas a Bolsonaro, que tenta “comprar tempo”. “Ele não tem nada para entregar. Vai comprar mais vacinas? Não é crível uma promessa como essa. Vai reduzir juros ou segurar a inflação? Isso não cabe a ele. Então, é uma conversa defensiva de alguém que está numa posição frágil”, analisou.
De acordo com Grin, “Bolsonaro não vai encaminhar reforma”. “Tudo isso são temas em que ele não quis se envolver até agora, e antes ele tinha capital político para fazer isso. Agora, está na mão do Centrão. Esse tema está vencido”, observou. Para ele, o aparente otimismo do empresariado após a reunião tem prazo de validade. Um real apoio, conforme avaliou, viria apenas com uma mudança radical de postura por parte de Bolsonaro, o que o presidente não quer fazer.
Creomar de Souza, analista de risco político da Consultoria Dharma, avaliou que o presidente tem procurado restabelecer pontes com o mercado, mas que a grande expectativa dos entes empresariais é de que o governo tenha uma agenda factível de vacinação. “Que dê um panorama de retomada. Assim, será fundamental a capacidade do ministro Paulo Guedes (da Economia) de continuar fazendo esse tipo de interface e diálogo”, frisou.